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Bolsonaro tentou mudar bula da cloroquina, diz Mandetta na CPI

Ex-ministro ainda negou ter recebido proposta técnica para o isolamento vertical

Por Redação com Com agências 05/05/2021 12h12
Bolsonaro tentou mudar bula da cloroquina, diz Mandetta na CPI
Marcos Oliveira/Agência Senado

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou nessa terça-feira (4) que o presidente Jair Bolsonaro pediu para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterar a bula da cloroquina, medicamento com ineficácia cientificamente comprovada, para que fosse indicado no tratamento contra o novo coronavírus Sars-CoV-2.   

No entanto, Mandetta revelou que o pedido foi negado pelo presidente da agência sanitária, Antônio Barra Torres. A declaração foi dada durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, onde ele foi ouvido na condição de testemunha, quando existe o compromisso de dizer a verdade.   

“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que eu nunca tinha conhecido. Quer dizer, ele tinha esse assessoramento paralelo”, contou.   
 
De acordo com o ex-ministro, “nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não-timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para coronavírus”. 

Isolamento Vertical

Mandetta acrescentou que escreveu uma carta em defesa do isolamento para o presidente, que foi entregue em uma reunião com outros ministros no Palácio do Alvorada. 

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou Mandetta se o ministério recebeu alguma proposta técnica sobre a ideia de “isolamento vertical” por parte da Presidência da República. Mandetta negou. No isolamento vertical, o objetivo é aumentar a imunidade das pessoas, isolando apenas os grupos de risco da covid-19. Mandetta afirmou que pelo fato de o vírus ser “competente em sua transmissão”, o isolamento horizontal que envolve toda a população seria adequado no início da pandemia.

Perguntado sobre o aumento da produção de cloroquina pelo laboratório químico e farmacêutico do Exército, o ex-ministro disse aos senadores que a ordem para o aumento da produção do fármaco não partiu da Saúde. Aos senadores, Mandetta afirmou que a única coisa em relação à cloroquina que a pasta fez, após consulta ao Conselho Federal de Medicina (CFM) foi na direção do chamado uso compassivo da medicação.