Polícia

Policiais envolvidos em invasão de terreiro serão interrogados na próxima semana

A informação foi confirmada pela delegada Roberta Cordeiro, da delegacia de repressão a crimes contra vulneráveis, Tia Marcelina

Por Vinícius Rocha e Ylailla Moraes* 05/04/2023 15h03 - Atualizado em 05/04/2023 16h04
Policiais envolvidos em invasão de terreiro serão interrogados na próxima semana
Terreiro Abassá Angola foi invadindo em Maceió - Foto: Reprodução

Um mês após a denúncia de que policiais militares invadiram e depredaram o terreiro Abassá Angola, localizado na Cidade Universitária, parte alta de Maceió, a delegada da Polícia Civil responsável pelo caso, Rebeca Cordeiro, confirmou que os militares suspeitos serão interrogados na próxima semana. 

A delegada confirmou que o inquérito está em andamento. Foram feitas diligências no local onde está localizado o Terreiro, no Conjunto Otacílio Holanda, e que as vítimas e uma testemunha já foram ouvidas. Os PMs suspeitos estão com interrogatório marcado para a semana que vem. A delegada, no entanto, não especificou a data dos depoimentos.

A denúncia da invasão, feita pelo advogado Pedro Gomes, membro jurídico do Instituto do Negro de Alagoas (Ineg-AL), dá conta além da quebra do Terreiro, o filho da Ialorixá da casa, Jeane Yara e neto de mãe Vera uma das principais lideres religiosas de alagoas - falecida em 2022, foi sequestrado, levado para uma casa abandonada no mesmo bairro e torturado, sobre a premissa de encontrar informações de uma possível boca de fumo na região. Com o jovem de 18 anos nenhum material ilícito foi encontrado, bem como dentro do templo religioso invadido.

O advogado, que também está fazendo a defesa das vítimas, explicou que a investigação está tendo avanços, mas preferiu não dar mais detalhes sobre os trabalhos para que não haja comprometimento. Segundo ele, o jovem torturado pela PM permanece em um local seguro.

“O pessoal tá acolhendo, protegendo, não deixando que ele caia em algum tipo de armadilha, para que ele tenha uma vida normal” comentou Pedro. Quando questionado sobre o medo de possíveis retaliações, ele afirma que, apesar de tudo, o medo existe, mas não os paralisa.

"Nós convocamos todos os atores institucionais. Acredito que todos estão fazendo a sua parte de forma bastante satisfatória, a gente acredita que ela vai ter uma finalização, um bom desfecho na verdade, um desfecho correto, segundo a lei”. O advogado finaliza dizendo que confia na credibilidade da Polícia Militar e dos demais policiais para que o caso seja solucionado.

Ministério dos Direitos Humanos acompanha caso

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH), confirmou ao Jornal de Alagoas, que está acompanhando e monitorando o andamento do caso de invasão do terreiro Abassá Angola por policiais militares, além da agressão e tortura ao filho da Ialorixá da casa, no início do mês março.

A Diretoria de Promoção dos Direitos Humanos (DPDH –SNDH/MDHC), afirmou que tomou conhecimento do caso já no dia 4, dois dias depois do ocorrido, por meio da imprensa, e que diante das potenciais violações à liberdade religiosa e de crença relacionadas ao caso entrou em contato com o Instituto do Negro de Alagoas (Ineg-AL), que denunciou a invasão, no dia 7 de março.

“Em diálogo inicial obtemos informações com o objetivo de realizar uma escuta atenta do Terreiro Abassá Angola sobre o ocorrido”, afirmou, em comunicado enviado ao JAL, o MDH.O acompanhamento de casos de intolerância religiosa, segundo o próprio ministério viabiliza insumos para a construção de políticas de enfrentamento ao racismo religioso no país.

A DPDH reafirmou o compromisso com a defesa da liberdade religiosa e sua atuação no combate ao racismo estrutural. “Assim, a DPDH – SNDH/MDHC, ao estabelecer diálogo constante com a sociedade civil e com os diversos órgãos governamentais, em especial em casos de potenciais violações, também viabiliza insumos para a construção de diretrizes políticas de maneira transversal, interseccional e atentas ao enfrentamento ao racismo religioso no país”.