Polícia

Namorada relata agressão de Dr. JHC, mas muda versão após chegar na Central de Flagrantes; entenda

Por Blog do Edivaldo Júnior 20/11/2023 14h02
Namorada relata agressão de Dr. JHC, mas muda versão após chegar na Central de Flagrantes; entenda
Isadora Martins e Dr. JHC - Foto: Reprdução/Instagram

Nervosa, ao telefone, a dentista Isadora Martins relata para a policial militar que a atende que tinha uma emergência. A militar pergunta qual emergência. E ela responde: “briga de casal, fui agredida, fui jogada no chão”.

A militar pergunta se a pessoa que a agrediu “está aí no local, você pode dizer sim ou não?”. Ela responde “sim”. Em seguida, passa a dar o endereço da ocorrência e é orientada a esperar a guarnição da PM.

O áudio com a gravação da ligação de Isadora Martins para PM está preservado. Tem 2 minutos e 42 segundos, mas não poderá ser divulgado por enquanto para não prejudicar as investigações.

O que se segue a partir daí é uma ocorrência policial completamente atípica, com uma demora fora de padrão para transferência dos envolvidos até a Central de Flagrantes.

Pelos relatos, quando a guarnição chegou ao local da ocorrência encontraram portas arrombadas e o acusado, João Antônio Holanda Caldas, o Dr. JHC trancado em quarto. Ele se recusava a sair.

Veja trecho do Relatório Integrado da Ocorrência: 1051464

“Fomos acionado via Copom para uma situação de violência contra a mulher, chegando ao local indicado encontramos a suposta vítima que se encontrava bastante nervosa a senhora Isadora Martins que nos relatou que teria discutido com seu companheiro. Ao visualizar o interior do apartamento que se encontrava com a porta aberta , a guarnição observou a porta do quarto do casal quebrada na sua parte inferior e trancada, onde no interior do comodo se encontrava o seu companheiro o senhor João Antônio Holanda Caldas que não atendeu o pedido pra abrir a porta e, de imediato acionamos a supervisão onde posteriormente chegou o sub-tenente Jânio, o coordenador de operações do Copom, Capitão Diego Vieira também se fez presente no local o tenente coronel Rodrigo Amorim, e a mãe do Envolvido assim como os advogados das partes, conduzimos as partes para a central de flagrantes”.

Pelos registros oficiais, os envolvidos na ocorrência só chegam à Central de Flagrantes cerca de duas horas depois da abordarem da guarnição. Normalmente, guardada a distância, o tempo padrão seria de 15 a 30 minutos em casos como esse, segundo um experiente delegado da Polícia Civil.

Pior. Estranhamente, o acusado, Dr. JHC chega ao local 45 minutos antes, acompanhado da ex-senadora e suplente de senadora, Eudócia Caldas, mãe dele. Eudócia é também médica, capitã da reserva da PM de Alagoas e ex-prefeita de Ibateguara-AL.

O acusado é irmão do prefeito de Maceió, foi suplente de deputado federal pela Bahia e chegou a exercer o mandato na Câmara dos Deputados entre maio e outubro de 2020.

Além de Eudócia Caldas, Dr. JHC chega a Central de Flagrantes acompanhado de militares. A informação é de ao menos um deles prestaria serviço à prefeitura de Maceió. Outro comportamento atípico na chegada do acusado é que ele foi autorizado a entrar pelos “fundos” da Central, o que evitaria na versão de alguns a “exposição”, porque a aquela altura já haviam várias pessoas tentando acompanhar o caso no local.

Na sequência, Isadora Martins chega num carro, em que estaria um delegado da Polícia Civil, e alguns militares que também prestariam serviços para a prefeitura de Maceió. De acordo com imagens a que o blog teve acesso, o delegado e os policiais descem antes, conversam rapidamente entre si e depois mandam a suposta vítima descer. Isadora é então cercada por eles e, após aparentemente ouvir algum tipo de orientação, é levada para entrar na Central de Flagrantes.

No depoimento, segundo o Boletim de Ocorrência, ela nega ter sofrido agressão.

Provas


Todos estes registros estão gravados em vídeos da Central de Flagrantes, a que o blog teve acesso. Sua divulgação deverá ser feita, em breve, pelas autoridades. O vídeo, o áudio, todo o material será disponibilizado no inquérito.

Investigação

A Polícia Civil e a Polícia Militar devem iniciar investigações internas acerca dos procedimentos no caso do Dr. JHC. Um delegado da PC explica, sob condição de sigilo da fonte, que militares ligados a assessoria militar da prefeitura de Maceió teriam tirado a vítima do local e só decidiram apresentá-la após a ameaça de que poderiam ser processados por “rapto” ou “obstrução de justiça”.

De acordo com o delegado, as informações é que um militar ligado a assessoria militar da prefeitura de Maceió foi até o local da ocorrência e retirou de lá Isadora: “ficaram com ela por quase uma hora num carro, aparentemente pressionando para que ela mudasse a versão”, aponta.

Nova versão


No dia seguinte aagresão, neste domingo a tarde, a dentista Isadora Martins, usou as redes sociais na tarde deste domingo (19/11), para explicar que não sofreu agressão. O comportamento ocorre em vários casos deste tipo, em que a vítima se arrepende da denúncia e tenta mudar a versão.

“Surgiu uma fake news envolvendo meu nome e do meu noivo. Recentemente, houve um mal entendido entre mim e ele. Quero ressaltar que não sofri qualquer tipo de agressão ou violência por parte dele”, escreveu.

“Lamento que pessoas maldosas, de má fé, estejam explorando midiaticamente nossa intimidade com fofocas e mentiras. Estamos bem, agradeço a preocupação e peço respeito a todos”, concluiu Isadora.

Reprodução de vídeo da chegada de Isadora Martins à Central de Flagrantes, acompanhado de militares, um delegado da Polícia Civil e outras pessoas não identificadas

Veja o Boletim de Ocorrência