Política
Beltrame diz que morte de DG não vai ficar como a do pedreiro Amarildo
Em entrevista ao programa ‘Encontro com Fátima Bernardes’, secretário diz que se precisar vai cortar na carne
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse, em entrevista ao programa "Encontro com Fátima Bernardes", da TV Globo, que a morte do dançarino Douglas Rafael da Silva, o DG, não vai ficar como a do pedreiro Amarildo de Souza, que desapareceu na Rocinha, em junho do ano passado, após ser levado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local. Beltrame afirmou, ainda, que a elucidação do caso é importante para não comprometer o projeto de pacificação das comunidades:
- Não tenho como negar isso. Mas hoje, a polícia trabalha dentro da Rocinha normalmente. Antes, não conseguia. Hoje, qualquer serviço público entra na Rocinha. No Pavão-Pavãozinho, é a mesma coisa. Determinados serviços não conseguiam chegar. E quantos Amarildos o crime em 30 anos no Rio não produziu? Nos fornos de micro-ondas, no Alemão. Não quero isentar a polícia dos seus erros, mas não podemos esquecer o passado.
O secretário prometeu lisura, transparência e rigor na apuração da morte no Pavão-Pavãozinho, e chegou a afirmar que cortará na própria carne se ficar comprovada a participação da Polícia Militar.
A perícia no local faz um relato breve, não movimenta cadáver. O exame do IML é que retifica ou ratifica o outro. Na minha concepção, foi prematura a atitude de quem falou que foi queda. Isso só poderia ser dito mediante um laudo técnico. O laudo do IML vai esclarecer, não tenho dúvida. Vou acompanhar de perto. E, se for necessário, vamos cortar na carne.
O secretário afirmou também que é solidário à mãe de DG, que durante o velório do filho acusou a polícia de torturar o dançarino:
- Eu, que sou pai, quero dizer para ela que não vai ficar como Amarildo, que isso não vai ficar impune. Eu tenho três filhos, moro nesta cidade, isso não vai ficar assim. Não temos o direito de errar, mas errar é humano. Vou garantir a essa família a transparência. Podem acreditar na elucidação desse caso, e digo aos senhores que o Rio vai demorar a mudar o paradigma da violência se essas partes da cidade não forem ocupadas pelo Estado. Se depender deste secretário, isso vai acontecer.
Durante o velório de DG, no Cemitério São João Batista, Maria de Fátima Silva, mãe do dançarino, voltou a criticar a ação dos policiais na comunidade da Zona Sul do Rio e a fazer menção à morte de Amarildo.
Falta de cápsulas não impede investigação
O secretário disse que, de fato, haverá dificuldades para se saber se o tiro partiu da arma de um traficante ou de um policial:
- Normalmente, quando o tiro é transfixante, não há como fazer confronto balístico porque a cápsula foi embora. Mas há as testemunhas, as oitivas, a reconstituição. Existem outros mecanismos que podem chegar (à conclusão da origem do tiro que matou DG).
Sobre as cápsulas de calibre 45mm que a mãe de DG disse ter visto junto aos documentos do filho, Beltrame explica que a PM não usa esse tipo de arma:
- As cápsulas, se foram encontradas lá, devem ser encaminhadas para a delegacia. Ela falou em 45mm. Posso afirmar que não são da PM. Mas ela está nervosa - afirmou.
Beltrame também avaliou o projeto das UPPs:
- O maior acerto das UPPs é o Estado ser senhor de territórios que estavam com o tráfico. O Rio, como todo mundo sabe, é uma cidade partida. Nesses locais, você anda metros e está dentro da informalidade. Você, muitas vezes, da sua casa vê a favela subir e não pode fazer nada. É uma utopia dizer que o tráfico de drogas vai acabar. Os erros das UPPs são compreensíveis porque é um projeto imenso, que atinge 2 milhões de pessoas, que está em mais de 60 comunidades.
O secretário considerou positivo o fato de a Secretaria de Segurança ser comandada por um técnico e não por um político:
- O secretário de Segurança tem desafios difíceis. Segurança pública é um jogo que a gente não vai ganhar no Rio nem em qualquer lugar. Na segurança pública, você antecipa os fatos. É um jogo que se empata, que se tenta controlar.
Beltrame diz que estado precisa transitar em favelas como em outros lugares
Com relação à ocupação do Complexo do Alemão, que foi mencionada em sua autobiografia "Todo dia é segunda-feira”, lançada recentemente, Beltrame contou que se surpreendeu com o fato de o crime estar enraizado na comunidade:
- O que me causou espanto foi o número de pessoas que existem naquele lugar ligadas ao crime. Temos quatro ou cinco gerações que já vieram de famílias ligadas ao problema.
Indagado se temeu que tivesse ocorrido um banho de sangue na ocupação do complexo, o secretário respondeu:
- Temi. Nossa opção era fazer uma entrada e mostrar para as pessoas que tínhamos força para ocupar. Isso, de uma certa forma, funcionou.
Na opinião do secretário, enquanto apenas se discutir a relação polícia/ bandido, não se vai evoluir muito.
- Aqui no Rio, é necessário que se discuta a urbanização das favelas. Não é para a polícia entrar. É para o gás entrar, o esgoto entrar. Só há acessibilidade a pé. A Rocinha é assim, o Santa Marta, o Alemão. Isso dificulta a ação da polícia, mas também dificulta uma senhora doente ou uma mulher grávida se locomover. É uma questão que tudo chegue lá, que o Estado possa transitar nesses lugares como em outros.