Política

Copa do Mundo: o que querem as vozes manifestantes em AL

Eles admitem que vai ter Copa e até acreditam que é uma oportunidade para cobrar do governo melhorias econômicas e sociais

Por Lívia Vasconcelos 26/05/2014 14h02
Copa do Mundo: o que querem as vozes manifestantes em AL
Protesto na Ufal marcou o 15M alagoano - Foto: Facebook

Os nomes são influenciados pelos movimentos europeus: o dia seguido da inicial do mês em que os protestos acontecem. Assim foi o 15M, realizado no dia 15 de maio de 2014 em diversas cidades do Brasil e capitaneado pelo Comitê Popular da Copa SP – que se intitula uma articulação horizontal e apartidária. Na página do movimento no Facebook, o teor da articulação é evidenciado numa foto de capa berrante, onde se lê “15M: O Brasil entra em campo contra as injustiças da Copa”.

Enquanto o “gigante brasileiro" parecia não ter voltado a dormir depois dos protestos do ano passado, as manifestações em Alagoas quanto à realização da Copa do Mundo estavam silenciosas, contrariando o barulho visto na maior manifestação popular da história do estado – em 20 de junho do ano passado, um público estimado em 15 mil pessoas foi às ruas contra o aumento da passagem de ônibus. Esse completo marasmo perdurou até a adesão de lideranças locais ao 15M.

Membro da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (Anel), Wibsson Lopes credita essa apatia ao fato de o estado não sediar nenhum jogo. “O impacto acaba sendo diferente em estados como Pernambuco”, diz. No 15M em Alagoas, a Anel, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Alagoas (DCE) e a Juventude do PSTU foram os articuladores do bloqueio ao trânsito na porta da Ufal.

A pauta nacional reivindica que altas cifras como as investidas em obras estruturantes para o mundial nos últimos anos também sejam destinadas aos serviços públicos. Além dessas bandeiras, quando realizados em praças específicas os protestos ganham caráter local. Esse é mais um dos motivos pelos quais essas movimentações acabam sendo alvo de duras críticas às suas estruturas e direcionamentos.

Caldeirão de bandeiras – Em Alagoas, o 15M também chamou atenção para a falta de assistência estudantil em geral, mas os próximos atos prometem alargar denúncias contra o governo estadual e as deficiências locais, à medida que forem atraindo novos membros.

O militante Wibsson Lopes responde às críticas de quem classifica os protestos como “muito barulho por nada” – ou, pelo menos, por nada em específico. “Existe um lado positivo nessa descentralização. As pessoas estão indo às ruas de maneira espontânea, e é bacana que elas se expressem da maneira que acham mais conveniente”, explica Wibsson.

Diferente do ano passado, a articulação agora abrange um quadro mais delimitado, com a adesão inicial de estudantes já envolvidos na luta. Integrante da juventude do PSTU, Niara Aureliano fala que as movimentações também acabam atraindo pessoas não ligadas a partidos ou coletivos, mas por enquanto a maioria é de militantes. “Nosso intuito é envolver a população, por isso convocamos todos, sem restrições e de forma pública, aos encontros para discutir as mobilizações”, diz.

Protesto 15M na Ufal

“Agenda” para a Copa – Com o jogo de abertura da Copa do Mundo marcado para o dia 12 de junho, os grupos organizados prometem barulho, mas em Alagoas já contam com alguns entraves. Este mês, o Ministério Público Estadual enviou ofício ao comando da Polícia Militar exigindo imediata intervenção nos protestos, para garantir o direito à circulação das pessoas. A alegação é que as consequências das manifestações ferem a Constituição Federal.

Os manifestantes classificam a decisão como arbitrária e antidemocrática. “Eles [o Ministério Público] querem criminalizar o movimento, impedir o direito que todos temos de nos indignarmos dentro de uma democracia”, diz Niara Aureliano.

“Essas ações do MP acabam contribuindo para criar um clima de medo e afastar as pessoas das ruas, da luta. É uma ação que intimida”, completa Wibsson Lopes.

Ainda assim, os envolvidos na causa não parecem acreditar que a medida do MP consiga ir muito adiante. Atrelados a uma agenda nacional para o período dos jogos da Copa, divulgada pela CSP-Conlutas – Central Sindical e Popular, a realização de manifestações nos estados serão definidas em plenárias locais, porém em interlocução com as demais praças.

Assim como aconteceu na “Occupy Wall Street” (Ocupe Wall Street), nos Estados Unidos; no “Movimiento 15-M”, na Espanha; e no próprio “O gigante acordou”, no Brasil, o recrutamento de membros dos novos movimentos sociais encontrou um aliado sem limites, capaz de unir pensamentos e arraigar ideologias como nunca visto antes: a internet e as redes sociais. É assim que eles se articulam, ou vai dizer que você esqueceu a ressonância de vozes durante a manifestação do ano passado, em Brasília, no Planalto Central? Os títulos dos vídeos disseminados na rede que registraram esse momento histórico já avisavam: “Amanhã vai ser maior”. O que eles guardam para essa Copa ainda está por vir.