Política
Manifestantes dos atos do dia 12 não confiam no sistema político, diz estudo
A maioria dos manifestantes presentes ao ato do último domingo (12) na Avenida Paulista, em São Paulo, e que foram às ruas em protesto contra o governo e a corrupção, era branca, com renda acima de cinco salários mínimos e ensino superior completo, diz a Pesquisa com os Participantes da Manifestação do dia 12 de abril de 2015 sobre Confiança no Sistema Político e Fontes de Informação. O estudo mostra que a maioria dos participantes não acredita ou não confia em instituições políticas, como políticos, partidos políticos, organizações não governamentais (ONGs) e movimentos sociais.
O estudo foi coordenado pelos professores Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP), e Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo a pesquisa, a maior parte dos manifestantes é homem (52,7% do total), têm entre 26 e 55 anos (21,1% dos manifestantes têm idade entre 46 e 55 anos), com ensino superior completo (68,5% do total) e branca (77,4%).
A maioria deles também declarou renda acima de cinco salários mínimos (24,8% do total tinha renda entre R$ 3.940 e R$ 7.880; 28,5% com renda até R$ 15.760 e 19,5% com renda superior a R$ 15.760). “Ele [manifestante] é relativamente mais velho, rico, branco, tem ensino superior e uma descrença generalizada nas instituições políticas, o que inclui ONGs e movimentos sociais”, disse Pablo Ortellado, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
“A primeira coisa que queríamos medir na pesquisa era investigar em que medida o descrédito com os partidos políticos, como o PT, que já tinha sido apurado em pesquisas na manifestação do dia 15 de março, também se referia a outros partidos e aos políticos. Medimos então os partidos políticos, políticos e movimentos sociais, ONGs e a imprensa. E o resultado foi que o descrédito é com o sistema político como um todo”, disse Ortellado.
A pesquisa perguntou também sobre a confiança dos entrevistados em veículos de comunicação e apenas 21% deles disseram acreditar muito na imprensa. Do total de entrevistados, 51,8% deles disseram confiar muito na revista Veja, seguida pelo jornal O Estado de S. Paulo (40,2%).
Quanto aos partidos políticos, 73,2% disseram não acreditar neles, de maneira geral e apenas 1,1% disseram confiar muito. Quando os partidos foram citados, 96% disseram não confiar no PT; 81,8% no PMDB; 77,1% no PSOL e 47,6% no PSDB. Do total de entrevistados, 61,1% disseram também não confiar na Rede Sustentabilidade, que ainda não existe como partido político. Dos que disseram confiar muito nos partidos, 11% disseram confiar no PSDB, 2,6% na Rede, 1,9% no PSOL, 1,4% no PMDB e 0,2% no PT.
Quanto aos políticos, 96,7% disseram não confiar na presidenta Dilma Rousseff, seguida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (95,3%) e pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (87,6%), todos do PT. A rejeição ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, foi 28%, a mais baixa dentre os políticos citados, enquanto seu nível de confiança, o maior dos políticos citados pela pesquisa, ficou muito próximo à rejeição, em 29,1%; seguido pelo senador José Serra, também do PSDB, que ficou com 23,8% de nível de confiança e rejeição de 32,7%.
“O índice de confiança no PSDB, por exemplo, é muito baixo. E mesmo as lideranças políticas com maior índice de confiança, por exemplo o governador Geraldo Alckmin, têm um índice de desconfiança muito maior [que o de confiança]. Esses dados mostram que a desconfiança, embora muito concentrada no PT, se aplica não só ao espectro, mas às instituições políticas como um todo”, destacou Ortellado. Quanto às ONGs e aos movimentos sociais, 20% disseram confiar muito, enquanto 29,8% disseram não confiar nada e 46,2% disseram confiar pouco.
“Testamos também a concordância [dos entrevistados] com boatos que circularam na internet. E esse foi um resultado muito surpreendente, porque não esperávamos que a concordância com esses boatos, principalmente alguns que são inverídicos, fosse tão disseminada”, enfatizou o professor. Dos resultados nesse item da pesquisa, 71,3% acreditam que Fabio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, é sócio da empresa frigorífica Friboi, 53,20% acham verdadeira a frase "o PCC é um braço armado do PT" e 42,6% acreditam que o PT trouxe 50 mil haitianos para votar em Dilma nas últimas eleições.
A pesquisa ouviu 571 pessoas com idade acima de 16 anos entre as 13h30 e as 17h30 no dia 12 de abril, em toda a extensão da Avenida Paulista. Segundo a Polícia Militar, essa manifestação reuniu 275 mil pessoas.