Política
Renan Filho tem um plano para salvar o setor sucroalcooleiro de AL
RF deve promover nos próximos dias reuniões com os principais atores da atividade em Alagoas
Engana-se quem pensa que Renan Filho está indiferente à crise que abala as estruturas do setor sucroalcooleiro de Alagoas.
A primeira investida do governador para ajudar o setor foi a operação de empréstimo internacional com aval da União, em 2016, uma ação que começou no governo de Dilma Roussef e avança que não prosperou por dificuldades das próprias empresas.
Agora, o governo está não só disposto a reduzir a carga tributária, como também a elaborar conjuntamente um plano para a retomada a produção de cana-de-açúcar em Alagoas.
Esta semana o governador se reuniu com Plínio Nastari, um dos maiores especialistas do setor sucroenergético do mundo. “Acredito que podemos fazer diferente, retomando a produção em Alagoas a partir de um novo modelo, capaz de elevar a produtividade dos canaviais do nosso estado. Reduzir só o imposto – e nós faremos isso – não resolve. Vamos buscar uma solução duradoura para a atividade em Alagoas”, adianta.
Depois de mergulhar nos números do setor sucroenergético de Alagoas e de conversar com especialista, Renan Filho deve promover nos próximos dias reuniões com os principais atores da atividade em Alagoas. “Vou me reunir com os usineiros, com os fornecedores e com os trabalhadores rurais. Sei da importância da cana-de-açúcar para nosso estado e vamos dar a nossa contribuição para que a produção volte a crescer”, enfatiza.
Definhando
A safra de cana-de-açúcar 17/18, iniciada em setembro ainda não terminou em Alagoas, mas já se sabe que será a menor da história recente do setor sucroalcooleiro do estado. A produção deve chegar, no máximo a 13 milhões de toneladas, menos da metade da média história de 26 milhões de toneladas por safra.
Há uma década Alagoas produziu 28 milhões de toneladas. Desde então, a produção vem definhando ano após ano.
“Alagoas chegou a moer 26 milhões de toneladas de cana. Nos últimos seis anos o estado vem diminuindo essa produção. No ciclo passado nós moemos 16 milhões de toneladas de cana e a perspectiva é que este ano, devido a grande seca que nós tivemos, a maior seca dos últimos cem anos, que afetou os canaviais do estado, nós vamos moer só 13 milhões de cana”, aponta Edgar Filho.
Somente nos últimos 5 anos, Alagoas perdeu mais de 30 mil empregos diretos no setor sucroalcooleiro, a área plantada caiu de 460 mil para 320 mil hectares e a receita, que já foi de R$ 3 bilhões por ano safra não passará da metade no ciclo 17/18. Neste período pelo menos sete usinas fecharam ou suspenderam suas operações, a saber: Guaxuma, Laginha, Capricho, Porto Alegre, Sinimbu, Triunfo e Cachoeira. Outras indústrias estão na “fila”.
A redução, na moagem corrente em comparação com a anterior pode chegar a cerca de 20%, com um forte impacto financeiro da quebra de safra, alerta Edgar Filho: “Alagoas é um estado que vive basicamente da monocultura da cana. Essa perda vai, portanto, afetar todo estado. São cerca de 300 milhões a 400 milhões que deixam de circular na economia e isso faz uma falta muito grande”, aponta.s últimos seis anos. Para um estado que vive basicamente da cana-de-açúcar, isso é um impacto muito grande”, enfatiza.
Buscando saídas
Em dezembro de 2017, Renan Filho participou de reunião com representantes do setor sucroenergético de Alagoas num encontro que contou com a participação de trabalhadores e fornecedores de cana. Depois de tomar conhecimento dos últimos dados sobre a cana-de-açúcar em Alagoas, o governador prometeu agir.
Na reunião de trabalho, Renan Filho anunciou medidas para tornar o setor sucroenergético de Alagoas mais competitivo. O objetivo inicial é trabalhar com a iniciativa privada para retomar a produção de cana de Alagoas, hoje reduzida praticamente à metade. O governador também anunciou ações para os fornecedores de cana e para os trabalhadores rurais.
“Eu vou fazer o esforço máximo, dentro da Responsabilidade Fiscal necessária, para que a gente eleve a competitividade do setor com relação aos estados vizinhos. Somos o expoente da produção de açúcar e álcool no Nordeste e não podemos ser o menos competitivo”, afirmou Renan Filho. O setor registra baixas sucessivas na produção, que caiu cerca de 50% nos últimos oito anos.
A queda drástica da produção de cana se deve, segundo o setor, a três anos consecutivos de seca, a falta de recursos para investimentos, política de preços e a problemas de gestão. “Nós temos que trabalhar incentivos para o replantio de áreas em Alagoas para os fornecedores, sobretudo aos pequenos, mas também para a indústria”, adiantou Renan Filho, que também propôs a criação de um grupo de Trabalho com representantes das entidades que formam o setor sucroenergético.
As ações devem ser anunciadas nos próximos dias.
Uma difícil relação histórica
Em Alagoas, usineiro não costuma ser associado com desenvolvimento econômico ou coisas do gênero. Pelo contrário. Empresários da agroindústria da cana-de-açúcar são vistos como ‘vilões’ e ‘responsáveis’ pelo atraso da nossa economia.
É fato que alguns deram razões para alimentar esse “conceito”. Mas na prática, a situação é bem diferente. O setor sucroalcooleiro ainda é, de longe, o que gera mais emprego e renda em Alagoas.
Quer saber da importância de uma usina? Pergunta para o prefeito de uma cidade em que uma dessas indústrias fechou as portas, converse com os milhares de trabalhadores desempregados e os empresários – e até feirantes – que aumentavam as vendas na época de moagem. Um exemplo recente é o de Atalaia. O munício sofreu com o fechamento da Uruba e comemorou a volta da Usina.
A relação entre os usineiros e o Estado sempre foi na base do morde e sopra – de um lado a outro. Não falto dos governantes de cada momento – mas de toda a estrutura estatal. Talvez por isso alguns governantes, a exemplo do próprio Téo Vilela, que mesmo sendo do setor, tenham tido dificuldades em “ajudar” as usinas.
Alagoas tem o melhor programa de incentivos industriais (Prodesin) que atende praticamente todo os outros setores – exceto o sucroalcooleiro, que tem no estado a maior carga tributária entre todos os estados produtores de cana-de-açúcar do Brasil.
Com o setor mergulhado na maior crise de todos os tempos, com a safra definhando ano após ano, Alagoas parece que se prepara para reintroduzir a cana-de-açúcar no seu portfólio de desenvolvimento econômico.
O governador acena com essa possibilidade e promete trabalhar a quatro mãos com as indústrias – num programa que vai envolver também fornecedores de cana e trabalhadores.
É um bom (re)começo.