Política
Em balanço de 2 anos, Temer apresenta dados parciais e ignora denúncia
O balanço preparado pelo presidente Michel Temer para comemorar dois anos à frente do Palácio do Planalto apresenta parcialmente dados oficiais e ignora os escândalos de corrupção que envolvem o emedebista e aliados.
A cartilha foi preparada para comemorar os dois anos desde que Dilma Rousseff foi afastada, durante o processo de impeachment. Na tarde desta terça-feira (15), o presidente fará uma cerimônia para comemorar a data.
Com o título "Avançamos - 2 anos de vitórias na vida de cada brasileiro", o documento traz em suas 32 páginas as ações feitas pelo governo, especialmente as da área econômica. Entre elas, a redução da taxa básica de juros, hoje em 6,5%, e queda da inflação em 12 meses, que chegou a 2,68%. Ele lembra que foram concedidos dois aumentos ao Bolsa Família, apesar de o programa social não ter sido reajustado em 2017.
No período, o presidente foi alvo de duas denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) e é investigado no STF (Supremo Tribunal Federal) suspeito de irregularidades em decreto sobre portos.
Além disso, desde que chegou ao cargo, ele já perdeu três ministros por suspeitas de irregularidades e possui auxiliares citados em delações premiadas no rastro das apurações da Polícia Federal.
Em versão anterior do texto, distribuída apenas para lideranças do Congresso, havia destaque para o combate à corrupção, sem citar a Lava Jato. Essa parte foi suprimida da versão impressa que será distribuída no evento.
Nas páginas internas do balanço, é usado o slogan "Maio/2016 - Maio/2018 - O Brasil voltou", mesmo nome do evento que será realizado nesta terça.
Inicialmente, o governo havia escolhido o lema "O Brasil voltou, 20 anos em 2", uma referência ao programa de governo do ex-presidente Juscelino Kubitschek -50 anos em 5- que propunha uma política de governo desenvolvimentista. A interpretação ambígua do mote, em caso de omissão da vírgula, fez com que o Planalto reduzisse a frase.
A CARTILHA
Outra medida positiva citada é a aprovação do teto de gastos públicos, da reforma trabalhista e a liberação de contas inativas do FGTS, que injetou R$ 44 bilhões na economia e beneficiou quase 26 milhões. "Isso só foi possível graças à nova política econômica implantada a partir de maio de 2016", observa.
O governo menciona também a privatização da Eletrobras. Um projeto sobre o assunto foi encaminhado pelo Executivo ao Congresso em janeiro, mas está paralisado na Câmara, com dificuldade de obter apoio mínimo necessário para aprovação.
Em alguns casos, foram feitos recortes para favorecer dados positivos para a gestão Temer. No tópico que trata de geração de emprego, por exemplo, o material ressalta que, em março, houve acréscimo de 56,1 mil postos de trabalho com carteira assinada, mas não observa que houve uma desaceleração em comparação a janeiro e fevereiro.
Os saldos positivos foram de 82,8 mil, em janeiro, e de 65 mil, em fevereiro, de acordo com os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Além disso houve alta no número de pessoas em busca de trabalho.
O país tem hoje 13,7 milhões de pessoas em busca de trabalho. No primeiro trimestre, o índice ficou em 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual em relação ao trimestre finalizado em dezembro.
O documento também não pondera que o país só criou empregos formais com remunerações de até dois salários mínimos. As contratações foram maiores do que as demissões apenas em vagas com rendimentos mais baixos.
Sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro, o balanço não traz nenhuma menção os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, caso que ainda não foi solucionado pelo interventor Braga Netto.
Além disso, os números de redução da criminalidade apresentados estão desatualizados, abordando apenas números de janeiro a março. Eles já tinham sido anunciados no início de abril. Com informações da Folhapress.