Política
Mal-estar e disputa por poder definem equipe de transição de Bolsonaro
Ao fim da primeira semana de trabalho da equipe de transição, o presidente eleito Jair Bolsonaro resolveu recalibrar os poderes dos integrantes do gabinete.
Os primeiros dias de trabalho em Brasília foram marcados por disputa interna por poder e espaço, e idas e vindas sobre o futuro do governo.
Ele decidiu mexer na estrutura do comando do gabinete de transição, que até então estava apenas nas mãos do futuro chefe da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni.
A concentração de poder nas mãos de Lorenzoni incomodou alguns componentes da equipe. Apenas o futuro chefe da Casa Civil foi nomeado até agora ministro extraordinário.
Para desfazer o mal-estar, Bolsonaro decidiu dividir a estrutura de coordenação entre Lorenzoni e o advogado e ex-dirigente do PSL Gustavo Bebianno.
Ele assumirá a Secretaria-Geral do gabinete, a qual ficam submetidas as áreas administrativa, de gestão interna e cerimonial.
Nomeado na segunda-feira (5) com remuneração de R$ 16.215,22, Bebianno não tinha posto definido na transição. Nos bastidores, ele é cotado para alguns cargos no futuro governo como ministro da Secretaria de Governo ou chefe de gabinete.
Procurado pela reportagem, ele nega e diz que sua função será "servir café". O advogado diz que na secretaria-geral do gabinete de transição vai trabalhar por uma melhor eficiência do setor público do governo Bolsonaro.
De acordo com portaria publicada no Diário Oficial da União, o gabinete passará a funcionar com duas novas coordenações: uma para atividades meio, assumidas por Bebianno, e outra para atividades fim, comandada por Lorenzoni.
O futuro ministro da Casa Civil vai responder pelo Conselho de Transição. A estrutura será formada pelos coordenadores dos dez grupos temáticos da equipe: Desenvolvimento Regional; Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações; Modernização do Estado; Economia e Comércio Exterior; Educação, Cultura e Esportes; Justiça, Segurança e Combate à Corrupção; Defesa; Infraestrutura; Produção Sustentável, Agricultura e Meio Ambiente e Saúde e Assistência Social.
Cada grupo de trabalho produzirá relatórios semanais sobre ideias e propostas de políticas públicas que devem implementadas na gestão Bolsonaro.
Os relatórios serão levados para discussão do Conselho e, depois, submetidas ao presidente eleito em reuniões semanais.
Outra mudança ocorreu em relação ao general Augusto Heleno, que já havia sido anunciado ministro da Defesa, mas assumirá o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
De acordo com aliados, a mudança ocorreu para que o general, nome de confiança de Bolsonaro, fique mais próximo ao eleito e comande uma área estratégica, que cuida da segurança pessoal do presidente da República.
Bolsonaro ainda não escolheu quem substituirá Heleno na Defesa, mas estuda indicar um nome da Marinha ou da Aeronáutica para haver um equilíbrio entre as Forças Armadas.
A indicação da deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para o Ministério da Agricultura também deixou fissuras no núcleo próximo ao futuro presidente. Houve uma divergência em relação ao ruralista Nabhan Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista), que fora cotado para a pasta e acabou escanteado.
Na interlocução com o Congresso, a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP) também procura espaço. Embora oficialmente Lorenzoni seja o interlocutor com o Congresso, ela tem se prontificado a conversar com a Câmara e afirma que está mantendo diálogo com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tratar de medidas como a reforma da Previdência.
Ainda no campo político, Bolsonaro procura um espaço para o senador Magno Malta (PR-ES), que chegou a ser cotado para seu vice, mas desistiu para disputar novo mandato no Senado e acabou derrotado nas urnas.
A equipe do presidente eleito estuda a possibilidade de Malta assumir um ministério que some Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, mas a indicação já foi alvo de críticas de aliados.
Circulou na internet nos últimos dias fotos do senador do PR ao lado dos últimos três dirigentes do Palácio do Planalto: os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e Michel Temer.
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, também disputa espaço. Ele quer manter em suas mãos a condução de toda a área econômica. Um dos principais pontos de dificuldade é a pasta de Comércio Exterior.
Embora Bolsonaro tenha anunciado que unirá o MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) à pasta de Guedes, ele vem sofrendo pressão de industriais para que o assunto fique em um ministério independente.
Guedes, até o momento, é o futuro ministro com maior concentração de poder. Ele assumirá uma pasta turbinada, que somará Fazenda, Planejamento, Comércio Exterior (ainda em discussão) e parte do Trabalho, que deixará de ser um ministério independente.
Para evitar transparecer uma guerra interna, como aconteceu ao longo da campanha, o presidente eleito pediu que integrantes da equipe evitem falar com a imprensa. Com informações da Folhapress.