Política
Irritado: Bolsonaro puxa gola de camisa de youtuber; saiba mais
Candidato do PL foi chamado de “tchutchuca do Centrão” e “vagabundo”; Wilker Leão faz vídeos também criticando petistas
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), irritou-se com o youtuber Wilker Leão e o puxou pela gola da camiseta na portaria do Palácio da Alvorada nesta 5ª feira (18.ago.2022).
No início da manhã, antes de ir à Base Aérea, Bolsonaro parou o comboio para conversar com apoiadores. Começou, então, a ser questionado por Leão. O youtuber chamou o presidente de “vagabundo”, “covarde”, “safado” e “tchutchuca do Centrão”. Bolsonaro saiu do carro e foi atrás do influenciador. A informação foi publicada pelo portal g1.
Com mais de 13.000 inscritos em seu canal do YouTube, Leão tem o costume de criticar políticos e provocar apoiadores. Também já gravou vídeos xingando petistas e representantes de outros espectros ideológicos.
O produtor de conteúdo define-se como cabo do Exército e advogado. Diz ter sido auxiliar da Assessoria Jurídica da Secretaria de Economia e Finanças do Exército de 2015 a 2022. Em nota enviada ao Poder360, o Exército disse que Leão não faz mais parte da corporação.
“O Sr Wilker Leão de Sá não integra atualmente os quadros do Exército Brasileiro. O cidadão em tela foi militar temporário, tendo sido incorporado às fileiras do Exército em 01 de março de 2014, para prestar o serviço militar obrigatório. Foi licenciado em 28 de fevereiro de 2022, na graduação de cabo, por ter atingido o tempo máximo de permanência”.
Entenda o passo a passo de como aconteceu a confusão, que durou cerca de 10 minutos:
Bolsonaro sai às 7h20 do Palácio da Alvorada em direção à Base Aérea de Brasília rumo à agenda eleitoral em São Paulo;
O comboio presidencial para, a pedido do presidente, na portaria do Palácio;
Bolsonaro desce do carro e cumprimenta apoiadores;
Wilker Leão se aproxima e pergunta o porquê de Bolsonaro ter limitado a delação premiada;
Homem puxa Leão, que cai no chão e diz a Bolsonaro que sofreu violência;
Seguranças do Gabinete de Segurança Institucional abordam Leão, que se recusa a sair;
Leão critica sanção da lei do juiz de garantias;
Leão chama Bolsonaro de “tchutchuca do Centrão” e diz que o presidente não tem coragem de conversar com ele;
Leão diz que Lula também é ladrão e continua sobre Bolsonaro: “Mas esse aí está fazendo tudo o que o PT faz”;
Bolsonaro entra no carro, e o youtuber chama o presidente de “vagabundo”, “covarde”, “safado” e “tchutchuca do Centrão”;
Bolsonaro saiu do carro e vai atrás do influenciador;
Seguranças correm para cercar Bolsonaro;
Bolsonaro se aproxima de Leão, que se afasta e continua gravando;
Bolsonaro puxa a gola e o braço do youtuber, em direção ao celular dele;
Leão é agarrado por um segurança e levado para a grama, a alguns metros de distância de Bolsonaro;
Enquanto Leão se revolta, é possível escutar Bolsonaro dizendo para os seguranças pegarem o celular do youtuber;
Integrante do GSI pede para o cinegrafista da TV Globo parar de filmar; o jornalista se recusa;
Bolsonaro continua do lado de fora do carro, pede para falar com Leão e para os apoiadores não filmarem;
Bolsonaro muda de ideia e diz que os apoiadores podem gravar “à vontade”;
Bolsonaro fala com apoiadores e elogia a motociclista de um deles;
Leão se aproxima de novo, e Bolsonaro diz que pode debater com ele;
A seguir, a íntegra da conversa de Bolsonaro com Leão:
Bolsonaro: Por que essa agressividade?
Leão: Porque, quando eu converso tranquilo com o senhor, quando eu fui lá [no cercadinho, fui proibido de entrar de novo para conversar tranquilo. Eu quero saber por que o senhor sancionou a limitação da delação premiada. Isso não é ruim?
Bolsonaro: O Congresso aprova as leis.
Leão: Mas o senhor tem poder de veto e sanção.
Bolsonaro: Não é esse poder todo. Quem determina as leis originalmente é o Congresso. Se eles derrubarem o voto, é lei.
Leão: Mas o senhor não vetou, esse é o problema. Se tivesse vetado, teria mantido o padrão de honra do seu governo.
Bolsonaro: Você quer falar de orçamento secreto?
Leão: Também.
Bolsonaro: Se fosse secreto, não estaria no Diário Oficial União. Espera, vou te explicar. O orçamento secreto se chama RP-9. Quando eles fizeram, de R$ 16 bi, eu vetei. Eles derrubaram o veto. Inclusive o PT, que me acusa, votou para derrubar o veto. Não posso ser um presidente, um cara 100%. Vai desagradar com uma outra coisa.
Leão: Isso aí o senhor reajustou para sancionar o valor que achava menos pior do que os bilhões. Mas, por exemplo, algo totalmente discricionário, que depende de ninguém além do senhor, o senhor se juntando a Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, no ministério mais importante.
Bolsonaro: Todos os partidos têm pessoas que devem alguma coisa. Todos os partidos têm. Ou você acha que o PT não tem?
Leão: Claro que tem. Para mim, o senhor está representando uma direita que eu não acredito.
Bolsonaro: Eu preciso aprovar as coisas no Parlamento. Se eu aprovar sozinho, sou ditador. Fecha tudo, Supremo, Congresso, eu resolvo sozinho. Eu tenho que ter apoio do Parlamento. Os partidos de centro são quase 300, são 513 parlamentares. Como vou aprovar projeto simples de lei dispensando 300 votos?
Leão: Por que, por exemplo, o senhor não tentou uma reforma tributária? Está prometendo no seu plano de governo, mas o senhor nem tentou em 4 anos.
Bolsonaro: Você está esquecendo uma pandemia pelo caminho. Fiquei 28 anos dentro do Parlamento. Me aponte qual reforma tributária foi aprovada. Me aponte.
Leão: Nenhuma, mas o senhor não era o cara que ia fazer diferente?
Bolsonaro: Mas como vou fazer sem o Centrão?
Leão: O senhor falou que, se fosse para governar assim, não governava.
Bolsonaro: A maior reforma tributária foi a redução de gastos do governo. O governo do PT inchou o Estado de concurso público. A maior reforma tributária fizemos concurso só para essenciais, como PF, PRF. Não posso chegar lá e resolver. Não é quartel. O meu governo não é quartel. No quartel, resolvo as coisas. Mando, e o pessoal obedece. Aqui não.
Leão: No quartel, o senhor resolve? Uma das bandeiras ideológicas do senhor é porte de armas. Cabos e soldados do governo do senhor, a minha pergunta no cercadinho, com certeza o senhor não vai lembrar, não têm porte de arma. Olha o cara fazendo a sua segurança aqui. Sai da porta para fora, não tem [arma].
Bolsonaro: Porte de arma depende do Parlamento. Eu, por decreto… você precisa ler o Estatuto dos Militares.
Leão: Portaria 126 do COLOG. Precisa de autorização do comandante. O senhor é comandante supremo, é só editar uma portaria.
Bolsonaro: Não é assim. O que são cabos e soldados no Exército?
Leão: São tudo. Quem carrega a instituição nas costas.
Bolsonaro: Pô, legal. Não sabia disso, não.
[Apoiadores interrompem e dizem que Leão é doido]
Bolsonaro: Deixa eu conversar com ele. Cabo e soldado ficam por, no máximo, 8 anos. São temporários, não têm concurso. Você dá porte de armas para essas pessoas não é como você quer. Jovens, muitos moram em comunidade.
Leão: Como vai dar para o cidadão de bem, então?
Bolsonaro: Teriam suas armas tomadas na comunidade.
Leão: O cidadão de bem vai ter sua arma tomada, então. O senhor, quando era capitão, foi assaltado e teve sua arma tomada. Pode acontecer com qualquer um, até com capitão.
Bolsonaro: Não foi tomada, não. Recuperei minha pistola 2 dias depois. Você está completamente equivocado.
Leão: Olha como é importante debater com o contraditório.
Bolsonaro: Você acha que um cabo pode ter porte com 20 anos?
Leão: Claro.
Bolsonaro: Mas a lei diz que é no mínimo 21 anos.
Leão: Mas é uma situação especial, camarada. É tipo policial.
[Bolsonaro entra no carro e segue viagem]
Com informações de Poder 360.