Política

Apenas quatro dos 27 deputados estaduais alagoanos eleitos se declararam pardos; ALE não terá negros

Para membro do Instituto do Negro de Alagoas, números são reflexos do racismo e pela não ocupação de espaços de poder por pessoas pretas

Por Alícia Santos* 08/10/2022 12h12 - Atualizado em 08/10/2022 13h01
Apenas quatro dos 27 deputados estaduais alagoanos eleitos se declararam pardos; ALE não terá negros
Apenas quatro deputados se declararam pardos; ALE-AL não terá negros no próximo quadriênio - Foto: Divulgação/Montagem: JAL

Somando aproximadamente 56,2% da população brasileira, segundo dados do IBGE de 2019, pretos e pardos ainda sofrem com a desigualdade racial no país. No estado de Zumbi e Dandara dos Palmares - líderes e símbolo da resistência negra em Alagoas, essa parcela da população não é representada em igualdade nos espaços políticos, ao menos é o que confirma as eleições deste ano. 

Nenhum dos 27 deputados estaduais eleitos em Alagoas se declarou negro. Apenas quatro se autodeclaram pardos. São eles: Ricardo Nezinho (MDB), Dr. Wanderley (MDB), Inácio Loiola (MDB) e Mesaque Padilha (União Brasil). Ou seja, menos de 15% da Assembleia Legislativa de Alagoas será ocupada por pessoas não brancas no próximo quadriênio.

Já a bancada federal alagoana tem uma porcentagem maior de pessoas não brancas, porém, ainda nenhum negro. Dos nove deputados federais eleitos, três se declararam pardos: Paulão (PT), Arthur Lira (PP) e Fábio Costa (PP). Nenhuma das cadeiras será ocupada por pessoas negras.

Na disputa que elegeu Renan Filho (MDB) senador não havia candidatos negros. Nas eleições para o governo de Alagoas, apenas o Professor Cícero Albuquerque (PSOL), declarou-se negro.

Os números sugerem que, mesmo em Alagoas, um estado com histórico de luta e resistência do povo negro, não há, ainda em 2022, representatividade política dessa parcela da população.

Para a escritora e psicanalista Elisama Santos, o termo representatividade negra é a "reconstrução da imagem do negro na nossa sociedade“, que, segundo a especialista, ainda é muito carregada de diferenças marcantes em como as pessoas são retratadas não só na mídia e no mercado de trabalho, mas no imaginário popular.

Para Geyson Santos, graduando em história pela Uneal, rapper e membro do Instituto do Negro Alagoano (INEG-AL), esses números são apenas reflexos de duas coisas: a primeira delas, do que é a sociedade e de como o racismo estrutura as relações de poder. A segunda, diz ele, é “de como não é comum pessoas negras ocuparem espaços de decisão, espaços de poder”.

“O número de cadeiras ocupadas por negros reforça isso”, diz. “Principalmente quando se percebe que nenhum desses [deputados] tem ligação orgânica com o movimento negro do estado”, completa.

Para Geysson Santos, membro do INEG, consolidar figuras negras no debate público
é uma forma de minimizar a falta de representatividade na política. Foto: Arquivo Pessoal



Para Geysson é importante pensar também como esses eleitos se declararam nas eleições passadas, já que a autodeclaração não tem uma banca de heteroidentificação (processo que consiste exclusivamente em análise fenotípica do candidato autodeclarado preto ou pardo), diferente dos concursos públicos”, declara.

Para o membro do INEG, a política de Alagoas é organizadas para favorecer poucos, quando não, os mesmos. Ele argumenta que para minimizar essa diferença é preciso consolidar figuras e quadros negros que tenham relevância popular e que consigam pautar o debate público no dia a dia “para além das estruturas”.

“As demandas, pautas e políticas que são voltadas para a população negra não cabem na discussão das famílias tradicionais que pensam que manda no estado. Logo, a única maneira que a para minimizar essas diferenças, é conseguir fazer políticas para os debaixo”, comenta, afirmando que entre todos os deputados eleitos o único que ainda tem relação com o movimento negro e que foge minimante da política tradicional e hereditária é Paulão, do Partido dos Trabalhadores.

*Estagiária sob supervisão