Política

Audiência pública sobre cultura em Maceió é marcada por reclamação de artistas locais

Debate foi organizado pela vereadora Teca Nelma; FMAC recebeu duras críticas sobre cachês atrasados

Por Raphael Alves 17/04/2023 14h02 - Atualizado em 17/04/2023 16h04
Audiência pública sobre cultura em Maceió é marcada por reclamação de artistas locais
Teca Nelma, ao centro da mesa, guiou o diálogo entre poder público e artistas independentes de Maceió - Foto: Reprodução/YouTube

A Câmara Municipal de Maceió foi sede, na manhã desta segunda-feira (17), de uma audiência pública, com o objetivo de escutar e elaborar estratégias de incentivo aos artistas locais. A vereadora Teca Nelma (PSD) solicitou a reunião para que o debate sobre a arte tenha a participação ativa das entidades responsáveis.

Vários nomes que estiveram na audiência reclamaram, entre outros pontos, da preferência do município em investir em artistas de outros estados em detrimento dos artistas locais. Eles alegam ainda que há disparidade de cachês pago para músicos de fora de Alagoas.

MC Fantasma, representante do hip-hop alagoano, afirmou, em seu discurso, que houve um abandono financeiro no início do ano, após as prévias carnavalescas e que os artistas alagoanos que participaram dos eventos públicos organizados pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) ficaram dois meses sem receber o pagamento acordado. 

Segundo Fantasma, os músicos buscaram a FMAC, porém, não foram recebidos pelo presidente da pasta, João Lyra.

Mestre Prego, vice-presidente da liga independente das escolas de samba de Maceió, falou sobre o fazer artístico no Estado e reforçou o desamparo financeiro dos mestres culturais.

“Meu pai, antes de falecer, me disse: 'meu filho, você vai dar o andamento do que eu fiz, mas você não vai ganhar dinheiro, vai ter é aperreação' e hoje eu vejo que é verdade". Prego contou que recentemente sofreu uma das maiores humilhações de sua vida. Em suas palavras: "me senti pior que um lixo, porque o lixo ainda tem um plástico pra proteger", se referindo à promessa de uma reunião com o Prefeito JHC, feita pelo assessor do representante municipal, que não foi cumprida até dado momento.

Ao finalizar sua fala, ele agradeceu por tudo que a Secretaria de Cultura [ referindo-se à Fmac] operou até hoje, mas diz que as críticas cabem, já que o apoio à arte não deve se limitar somente aos períodos de festa, como o carnaval, ou o feriado de São João. Ele relembra o pagamento de R$ 4 mil, que “não paga nem os impostos direito”. Mestre Prego é líder de cerca de 50 pessoas que trabalham produzindo arte na Capital alagoana.

“Eu me sinto muito triste, tem um vídeo que mostra. Me colocaram um espaço de 8 (metros) por 8 (metros) e eu tenho seis carros alegóricos, de 4 (metros) por 6 (metros) e não cabe nenhum carro lá dentro, tive que colocar eles na rua”.

Larissa Gleiss, cantora e compositora alagoana subiu ao palanque e criticou a má gestão dos recursos destinados à arte em Alagoas. Segundo ela, João Lyra, na posição de presidente da FMAC, não soube administrar os valores para a cultura, o que causou preocupação na artista. 

“Eu fui contratada por um cachê de pequeno porte, mas eu era intimista. A FMAC me chamou para pagar R$ 5 mil e ela [FMAC] disse que eu ia receber R$ 2 mil. E por quê cargas d’água você me disse que eu ia ganhar R$ 5?” Com ar de revolta, ela perguntou: “É coisa básica, é ou não é?”

Finalizando, Larissa solicitou um olhar mais próximo ao dia-a-dia dos artistas, que muitas vezes sofrem por falta de comunicação dos órgãos e também com investimento na educação básica. Antes de deixar a palavra, a cantora e compositora pediu: “Vamos ver o básico? Vamos começar pelo básico? É muito bom ter dignidade”.

Em publicação, em suas redes sociais, a vereadora Teca Nelma agradeceu a presença dos artistas e firmou compromisso com a classe, para manter o debate público aberto. Mantendo uma boa relação entre o setor público e os artistas, mantendo este espaço de diálogo vivo e melhorando sempre as políticas públicas de incentivo à arte.