Política

"Apartidário": vítimas da Braskem convocam novo ato para a próxima quarta-feira (13)

Moradores das áreas atingiram fecharam pistas e marcharam entre os bairros do Centro e do Farol, cobrando medidas e pedindo a realocação de quem ainda está nas áreas atingidas pela mineração da Braskem

Por Raphael Medeiros 06/12/2023 15h03
'Apartidário': vítimas da Braskem convocam novo ato para a próxima quarta-feira (13)
Manifestantes durante ato contra a Braskem - Foto: Raphael Medeiros

A manhã desta quarta-feira (6) foi marcada pelos protestos das vítimas da mineração criminosa da Braskem, em Maceió. Representações das frentes políticas e populares envolvidas no processo contra a mineradora estiveram presentes no ato que seguiu entre os bairros do Farol e Centro.

De acordo com informações do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), outro protesto está sendo organizado, desta vez na parte baixa da cidade. A manifestação será realizada no dia 13 de dezembro, próxima quarta-feira, e o grupo se concentrará no Marco dos Corais, no bairro da Ponta Verde.

Dilson Ferreira, professor de arquitetura e urbanismo, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e uma das principais vozes sobre a recente questão urbana de Maceió estava presente no ato e conversou com o Jornal de Alagoas sobre o próximo ato das vítimas da Braskem.

Segundo o docente, a motivação do movimento desta manhã foi a urgência em retirar as famílias ilhadas, que ainda permanecem nas regiões mais afetadas, como os Flexais, Mutange e Bom-Parto. Para o professor, a Defesa Civil de Maceió omite informações que poderiam ser conclusivas sobre o caso.

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“A gente está aqui protestando pelas vítimas, pode ser que eles voltem, pode ser que esse protesto seja contínuo, outros protestam e outros não sabem o que pode vir a acontecer. Defesa civil não fala a verdade, o que serve oculta informações, então assim, essa é a nossa região e a gente vai lutar até o fim, junto com todo mundo". 

Ele continuou e fez elogios ao movimento coletivo, que segundo o próprio, visa à resolução de graves sequelas causadas pela Braskem. Dilson destacou o caráter apartidário da manifestação. 

“O legal desse ato hoje é que o ato todo é apartidário, todas as pessoas vieram, e é um ato que está crescendo cada dia a mais, e convoco a todos no dia 13, lá no Marco dos Corais, vamos ampliar esse ato e vamos lutar pelos direitos de todos.”

O protesto


O professor ressalta que a luta do movimento é por toda a sociedade, e não só por uma porção da cidade que foi destruída pela Braskem. 

“Então é assim, a luta é por todos, a luta não é só por essa porção da cidade que foi destruída, mas pela cidade. Tem o impacto da destruição e colapso de 35 minas, se isso acontecer, não vai ser [um problema] só para essa população, vai ser para a cidade inteira”. Ele explica que questões econômicas, sociais e de mobilidade podem se agravar caso o cenário se agrave. 

“Vai afetar tudo ao redor na mobilidade, no preço do imóvel, no preço da habitação, na exclusão dessas pessoas para fora do município, porque muita gente foi para o Pilar, para Rio Largo. Então assim, é um problema ambiental, social e econômico, não é só o problema das vítimas, é o problema da cidade inteira”.

Dilson preocupa-se com o tamanho da questão de Maceió e afirma que este é um problema nacional, relembrando os problemas envolvendo a Vale, mineradora responsável pelas tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. “A gente sabe que isso vai acontecer de novo, a gente precisa alertar a todos para que isso não se repita”

Universidade Federal x Braskem


A Universidade Federal do Estado, cerca de 50 anos atrás, comentou que a exploração de sal-gema em áreas urbanas poderia desencadear em problemas como o que vivemos atualmente.

“A gente [corpo docente da UFAL] é contrário, desde o início. Até porque a própria instalação da Braskem foi um ato autoritário, na época da ditadura, onde o governo e o Ministério Público foram autoritários. O governador deu um ato de criação da Salgema [antigo nome da mineradora Braskem], destruindo uma restinga no Pontal da Barra. Então o próprio ato de criação da empresa é um crime. O segundo crime é você minerar numa área urbana". 

O alerta da Ufal foi relembrado por Dilson, ao citar o caso do esvaziamento do bairro Bebedouro, que é um bairro histórico para Maceió. A região abriga as primeiras construções de Maceió. A mineração, segundo ele, acabou com memórias da capital alagoana e mudou o pensamento coletivo maceioense sobre a própria história- uma mancha no imaginário coletivo.

“Lembre-se que, no Bebedouro já existiam pessoas lá desde 1820. Então é o núcleo original da cidade. Está destruindo uma história da cidade. Então assim, a gente que é do movimento vê da seguinte forma 'é uma indignação justa'”.

Indenização para vítimas | reparação histórico- ambiental


Na entrevista, o professor citou um ponto de vista importante. A cidade de Maceió não desenvolveu um problema crônico sozinha, existe culpa de alguém e a responsabilidade deve ser cumprida. “Tem que se reverter todos os recursos que foram orientados desse acordo para as vítimas e para a cidade.”

O desgaste ambiental, com a exploração das minas, é imenso. O urbanista chegou a informar uma demora de cerca de 30 a 40 anos para que a região seja reabilitada.

“É um crime que, mesmo que hoje fosse ressarcido todo mundo, ficaremos com esse passivo ambiental durante décadas e vai ter que ser reinvestido muito. Não é a gestão de JHC e nem a próxima, nem a próxima. São várias gestões. Está no mínimo aí uns 30, 40 anos para que essa área seja reabilitada”.