Política

Lula intervém em discussão entre JHC e Renan, em Brasília

Encontro entre os dois grupos políticos (JHC e Lira; Dantas e Renan) acaba sem resultados práticos; Governo Federal garante apoio

Por Raphael Medeiros, com UOL 12/12/2023 13h01 - Atualizado em 12/12/2023 15h03
Lula intervém em discussão entre JHC e Renan, em Brasília
Dantas (Centro), ao lado de Renan Calheiros, Renanzinho e Rafael Brito - Foto: Lucas Borges Teixeira/UOL

Nesta terça-feira (12), pela manhã, uma reunião foi realizada, em Brasília, para tratar da crise do afundamento do solo em Maceió. Presente na reunião, o presidente Lula (PT), em certo momento, precisou intervir na conversa, para interromper uma discussão entre o prefeito JHC (PL) e o senador Renan Calheiros (MDB) sobre o acordo da Prefeitura com a Braskem que garante a propriedade dos imóveis à empresa mineradora. 

Na reunião, JHC e Renan discordaram em especial sobre o encaminhamento da área. Segundo participantes, o prefeito, que defende o acordo, e o senador, que argumenta que não houve um repasse justo à população, se interromperam em diversos momentos e o próprio presidente precisou intervir.

Em visita ao Planalto na semana passada, Dantas já havia chamado o acordo de "ilegal" e "inconstitucional" e disse que solicitou revisão à AGU (Advocacia-Geral da União). Ele se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), então presidente em exercício. JHC chegou a marcar a conversa, mas cancelou de última hora.

A CPI da Braskem também foi debatida. O governo é inicialmente contra a implantação por ser mais um empecilho na relação com o Congresso dado que a Petrobras é acionista da mineradora, mas, segundo interlocutores, já há consenso de que ela acontecerá — o PT, inclusive, indicou finalmente os nomes para participar.

Oficialmente, nenhum dos participantes quis se pronunciar por ora. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, fará o pronunciamento ainda nesta terça-feira (12) em que deverá anunciar que o governo seguirá acompanhando a situação e poderá servir como um intermediador da crise. Já está prevista outra reunião com as autoridades do estado, a bancada alagoana no Congresso e representantes da Braskem.

Estiveram presentes no encontro Arthur Lira (PP-AL); o ministro dos Transportes, Renan Filho; o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Fernando Farias (MDB-AL) e Rodrigo Cunha (Podemos-AL).

Os dois principais grupos políticos de Alagoas se encontraram com Lula, para que o gerenciamento de crise saia do papel, deixando de lado o embate entre as partes.  O foco da disputa entre os dois é o acordo entre a Prefeitura de Maceió e a mineradora Braskem, realizado no dia 20 de julho deste ano, sobre a área desapropriada por causa do colapso de uma mina na capital.

O governador Paulo Dantas (MDB), aliado do senador Renan Calheiros (MDB-AL), é contra ao passo que o prefeito maceioense João Henrique Caldas, JHC (PL), aliado de primeira hora do do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defende o acordo. Todos participaram do encontro. Veja como foi a leitura da carta do Governo de Alagoas, endereçada à Braskem e ao Poder Público.

Ontem (11), o governo de Alagoas anunciou a desapropriação da área de cinco bairros afetados pela mineração e que pertencem à Braskem há três anos, repassados após acordo que previu indenização de R$ 1,7 bilhão ao município. O documento transferiu formalmente à Braskem a posse dos imóveis e da área.

Disputa política atrapalha gerenciamento da crise

Esta foi a primeira vez que Dantas e JHC se encontraram pessoalmente desde o dia 29 de novembro, quando foi anunciado o risco iminente de colapso. A disputa de narrativas resvala diretamente nos planos dos dois grupos não só para 2024, quando JHC busca reeleição, quanto para 2026, com cenário ainda indefinido no estado.

Prefeitura e governo do estado também criaram seus próprios comitês de emergência para gerenciar a situação causada pela mina 18, que rompeu no último domingo (10). Não existe um órgão unindo as duas esferas para gerenciar a crise.

JHC foi eleito à prefeitura da capital em 2020 pelo mesmo PSB que em 2022 acolheu Alckmin. Muito mais próximo do grupo que apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado, ele rumou para o PL pouco antes da janela eleitoral e não tem citado o presidente Lula nas declarações públicas no combate à crise.

Lula também não deverá ir até Alagoas até que a situação seja resolvida. Segundo interlocutores, o presidente quer ajudar com o papel de interlocução e avalia que agora não seria o momento para aparecer "tomando partido", muito embora seja aliado histórico de Renan.

Tendência é de 'acomodação"

O coordenador da Defesa Civil de Alagoas disse que a tendência é de acomodação da mina. O coronel Moisés Melo afirmou que "a mina chegou à superfície em uma proporção 100 vezes menor do que o anunciado originalmente".

Não há sinais de que o rompimento tenha afetado outras minas e o rompimento identificado não significa o colapso, mas, sim, o começo do processo. As informações são da engenheira geóloga Regla Toujaguez, professora da Universidade Federal de Alagoas.