Política

Prefeitura de Maceió entra na mira do MP por compra de hospital inacabado com indenização da Braskem

O caso deve render novos capítulos à briga política que opõe o senador Renan Calheiros (MDB), aliado do governador Paulo Dantas, e o deputado federal Arthur Lira (PP), aliado do prefeito

Por Redação 03/02/2024 11h11 - Atualizado em 04/02/2024 11h11
Prefeitura de Maceió entra na mira do MP por compra de hospital inacabado com indenização da Braskem
Ao lado de Rafael Mota, Olga Guilhermina Farah, ambos do Albert Einstein e de Ricardo César Cavalcante, da Cardiodinâmica, JHC anuncia compra do Hospital do Coração - Foto: Reprodução

A aquisição de um conjunto hospitalar inacabado em Maceió ao custo de 266 milhões de reais entrou na mira de procuradores do Ministério Público de Alagoas por indícios de superfaturamento, em mais um foco de desgaste para o prefeito João Henrique Caldas (PL) às vésperas da disputa eleitoral.

O dinheiro utilizado na negociação é oriundo do acordo bilionário firmado pela prefeitura com a Braskem em julho passado, a título de indenização pelo afundamento de bairros na capital alagoana – o desastre deixou ao menos 50 mil desabrigados. A apuração é conduzida pela Promotoria de Fazenda Pública da capital.

Em outra ponta, o Tribunal de Contas do Estado realiza uma auditoria formal nos trâmites da aquisição. O procedimento foi autorizado por unanimidade durante sessão plenária em novembro passado. Após a auditoria, a Corte enviará os achados ao Ministério Público de Contas.

A compra do conjunto hospitalar foi anunciada com pompas pela gestão municipal, que prometeu inaugurar o empreendimento e oferecer ao menos 220 leitos para a população ainda no primeiro trimestre de 2024. O local, contudo, ainda está em obras, com alguns andares sem piso, revestimento ou equipamentos médicos.

O investimento envolve a desapropriação de dois prédios: o Hospital do Coração, que pertencia à empresa Cardiodinâmica, orçado em 180 milhões; o outro era de propriedade do Centro Médico HCor Empreendimentos Imobiliários e saiu ao custo de 86 milhões – os imóveis são conectados através de uma passarela.

Embora possuam CNPJs diferentes, as empresas têm uma médica como sócia e foram representadas pela mesma pessoa no termo de desapropriação. Todo o processo de compra foi concluído em tempo recorde: em 30 dias, a prefeitura avalizou o negócio e pagou, à vista, o valor integral da unidade.

Questionada por CartaCapital, a prefeitura de Maceió afirmou que a aquisição “seguiu todos os ritos formais com absoluta transparência”. Sustentou também que três auditorias independentes e credenciadas no Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia constataram a “viabilidade técnica e financeira” do negócio.

Com a unidade, acrescentou a prefeitura em nota, a cidade passará a contar com o “melhor e mais bem equipado hospital da região, que terá como especialidade os atendimentos de média e alta complexidade”.

Um dos laudos disponibilizados pela gestão municipal indica que os imóveis estavam concluídos à época da negociação, o que abriu caminho para a desapropriação.

Ocorre que, durante inspeção feita em outubro, os vereadores Joãozinho (PSD) e Zé Márcio Filho (MDB) puderam constatar que o prédio administrativo, de 10 andares, construído em frente à estrutura do hospital, não tem nada.