Política

Ex-morador do Pinheiro depõe na CPI: "A Braskem é dona desses terrenos e dessas casas todas"

Professor José Geraldo Marques foi um dos primeiros a denunciar os riscos da Braskem em Maceió e chegou a ser ameaçado

Por Vinícius Rocha 05/03/2024 18h06 - Atualizado em 05/03/2024 18h06
Ex-morador do Pinheiro depõe na CPI: 'A Braskem é dona desses terrenos e dessas casas todas'
Pedro França - Foto: Agência Senado

O professor maceioense José Geraldo Marques foi um dos primeiros homens a denunciar a possibilidade de desabamento do solo, em Maceió, ainda na época da instalação da Salgema, atual Braskem, no final da década de 70. 

Hoje, ele foi o primeiro também a depor na CPI da Braskem, no Senado Federal, que investiga a maior tragédia ambiental em área urbana do mundo e que expulsou mais de 60 mil pessoas de suas casas, em cinco bairros da capital de Alagoas. 

O próprio Geraldo foi uma das vítimas do colapso e teve que deixar seu imóvel no que considerou uma proposta sínica, da Braskem, "de técnicos bem preparados, que em uma tele reunião, nos convenceu a sair do imóvel". 

"Meu advogado nos aconselhou, pegue o que eles tem pra dar, porque se você não pegar vai para aqui a 10, 15 anos", lembrou Marques. Anteriormente, ele afirmou que "a Braskem é dona desses terrenos e dessas casas", referindo-se às ruas, logradouros e imóveis dos bairros afetados pela mineração desenfreada. 

Geraldo Marques foi secretário executivo de controle da poluição de Maceió durante a instalação da Braskem na cidade e relatou ter sido ameaçado de morte por telefone após alertar as autoridades sobre os riscos da mineração. “Foi uma tortura, ameaças de morte e mortes morais. Quase perco a cabeça”, declarou. 

O professor acrescentou que as consequências da exploração de sal-gema na região devem perdurar até a próxima década. 

“Algumas regiões de Maceió terão que conviver pelos próximos 10 anos com rachaduras e tremores até que surja a possível estabilidade defendida pela ciência, mas pelos próximos 10 anos teremos que conviver”. 

Outros depoimentos

Outro depoente foi o também professor, engenheiro e geotécnico André Galindo, que, por sua vez, apontou que os dados que mostram a abertura do solo maceioense em decorrência da exploração de sal gema são observados desde 2008 e negligenciados por autoridades. 

“O terreno era bom. Por que estava rachando? Tínhamos desconfiança que era a mineração, mas não tinha, ainda, certeza absoluta”, afirmou. “Comecei a desconfiar que era a mineração, mas não tinha certeza absoluta, até porque não é fácil acusar uma empresa poderosa como a Braskem. Eu só acusei em 2018 e foi aí que me chamaram de doido”. 

Para a engenheira e professora da Ufal, Natallya de Almeida Levino, que também participou da CPI nesta terça-feira (5) coordenadora de pesquisa o comprometimento da região vai além do financeiro.

“Houve um comprometimento financeiro depois da desocupação dos bairros, e isso é fato. Além dos fatores econômicos, é importante lembrar dos fatores sociais. Então, existe a frustração, mesmo que a indenização os contemplasse financeiramente, mas foi forçada. As pessoas se sentem frustradas”, pontuou. 

Ela é autora de pesquisa “sobre as dimensões econômica, social e ambiental da subsidência que atinge cinco bairros de Maceió” na UFAL, que expôs os impactos da tragédia nas dimensões econômica, social e ambiental.