Política
Caso Dr.JHC: inquérito corre em segredo de justiça e tem prazo expirado sem conclusões
Irmão do prefeito de Maceió foi levado à Central de Flagrantes após supostamente ter agredido a noiva, em novembro de 2023
Um caso emblemático de violência doméstica envolvendo uma das principais famílias da política alagoana está envolto de mistérios. E parece continuar assim. O inquérito do caso que investiga a suposta agressão cometida pelo irmão do prefeito de Maceió, o Dr. JHC, contra a sua noiva Isadora Martins, tramita em segredo de justiça.
A informação foi confirmada pela delegada Ana Luíza Nogueira, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) da Polícia Civil de Alagoas (PC-AL), que tem evitado falar sobre a investigação.
O prazo para conclusão do inquérito expirou, mas os mistérios continuam. Ao Jornal de Alagoas, a delegada Ana Luíza disse que as informações seriam centralizadas unicamente pela assessoria de comunicação da PC-AL. O pedido foi então solicitado pela reportagem, mas a comunicação da Polícia civil afirmou não ter recebido nenhuma resposta da delegada ou de qualquer outro membro da delegacia da mulher.
No dia 18 de novembro de 2023, Isadora Martins, companheira de João Antônio Holanda Caldas, ligou para a polícia relatando ter sido agredida e “jogada no chão” dentro de um apartamento na Jatiúca. Pelos relatos, quando a guarnição da PM chegou ao local da ocorrência encontrou portas arrombadas e o acusado, trancado em quarto.
As tratativas daí em diante fogem dos padrões de uma ocorrência policial comum e os envolvidos só foram conduzidos à Central de Flagrantes, no bairro do Farol, 45 minutos depois, mas acompanhados da suplente de senadora e mãe do acusado, Dra. Eudócia Caldas e de militares ligados ao prefeito de Maceió, o subtenente Gilvan e o bombeiro major Luiz Diego.
Ao chegar na unidade policial, Martins informou que "acionou a polícia porque ficou nervosa e que não tinha interesse em registrar um boletim de ocorrência". Isadora disse ainda "que não havia sido ameaçada nem agredida fisicamente pelo noivo" e não quis que fosse uma medida protetiva contra o parceiro.
Dois militares envolvidos no caso foram presos. O Boletim Geral Ostensivo, ao qual o g1 teve acesso, relata que os militares foram presos em "flagrante transgressional" por terem agido "mal intencionalmente ou por falta de atenção durante o serviço", permitindo que "um militar de folga, lotado na Assessoria Militar da Prefeitura de Maceió, retirasse Isadora do local da ocorrência".
Em nota divulgada após a repercussão do caso, Isadora negou ter sido agredida, afirmou que houve um mal entendido e disse que “surgiu uma fake news envolvendo meu nome e do meu noivo”.
Isadora e Dr. JHC não tem mais fotos juntos e nem seguem um ao outro nas redes sociais.
Silenciamento
No Dia Internacional da Mulher, celebrado no último 8 de março, entidades e grupos de mulheres alagoanas repudiaram o caso violência doméstica no estado, cometido pelo irmão do prefeito de Maceió, JHC, o Dr. JHC.
Para a Associação de Mulheres Advogadas de Alagoas - AMADA, o caso ignorou a Lei Maria da Penha e as instituições competentes não atuaram para proteger a vítima “e podem ter colaborado para que ela desistisse de romper o silêncio”
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher, através da sua presidente, Olga Tatiane, afirmou que o caso Dr. JHC é simbólico e que há época de sua repercussão submeteu uma nota de solidariedade à vítima.
“É um absurdo o que aconteceu com essa moça, que foi pressionada ao ponto dela se calar. Nossa postura é de que o caso fosse apurado com muita seriedade. Isso acontece com outras mulheres, a família pressiona, a igreja pede que ela deixe para lá, autoridades pressionam ou minimizam a violência e muitas vezes isso escala para um feminicídio”, disse Tatiana.
Expulsão do partido
Dr. JHC foi o candidato a deputado federal com o maior número de votos a não ser eleito na história de Alagoas. Em 2022, recebeu mais de 92 mil votos pelo PSB-AL.
Após o caso, ele foi expulso da legenda que alegou, em nota divulgada à época, não compactuar com o que foi chamado de “operação política", e por envolver "pressão psicológica contra a vítima e a participação de adversários do nosso partido".