Política
A declaração de guerra de Rodrigo Cunha contra Arthur Lira
Quem conhece Lira sabe que ele não deixará de se posicionar ao estilo
Nos últimos dias o grupo do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL) viveu uma intensa crise política. O desfecho foi o esperado, mas com danos colaterais inesperados.
A disputa se deu em torno da indicação do candidato a vice na chapa do atual prefeito. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) cobrava o cumprimento de acordo feito por JHC que daria ao PP a vaga de vice.
Na segunda-feira (03/06) JHC comunicou que seu vice será o senador Rodrigo Cunha (Pode). Foi um “rasteira” nos planos traçados com Arthur Lira. A primeira reação do presidente da Câmara dos Deputados foi convocar seus aliados que estão com cargos na prefeitura para uma reunião, mas inicialmente sem pressa.
O inesperado veio na terça-feira a tarde. O senador Rodrigo Cunha é o relator do projeto de Lei que cria o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). O programa prevê incentivos financeiros para a pesquisa e a produção de veículos menos poluentes. Entre os pontos polêmicos do projeto está a taxação de compras internacionais abaixo de US$ 50, que havia sido incluída pela Câmara e que foi retirada do texto pelo relator, senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL).
O problema é que a taxação das importações foi aprovada por Arthur Lira, atendendo principalmente o setor produtivo nacional, que reclama da concorrência desleal. Enquanto a indústria brasileira paga impostos, os produtos chineses chegam isentos de taxas de importação.
O gesto de Rodrigo Cunha foi considerado pela imprensa nacional como uma “declaração de guerra” contra Lira.
Blusinhas
Veja trechos de artigo da articulista do Uol Andreza Matias.
“A decisão do senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) de retirar do texto em votação no Senado a chamada "taxa das blusinhas" tem outro motivo além da repercussão negativa que a medida aprovada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), gerou. A iniciativa revela o racha do grupo que apoia a reeleição do atual prefeito de Maceió, JHC (PL)”, diz a articulista.
Ela lembra que “Lira tentava fazer o vice de JHC, mas foi informado ontem que o escolhido será o senador Rodrigo Cunha. Por essa razão, a decisão do senador de descartar a "taxa das blusinhas" foi interpretada na política local como uma declaração de guerra a Lira, que bancou a aprovação da polêmica medida na Câmara.”
Segundo a articulista “Lira tem aliados em secretarias na prefeitura de Maceió, que administram 70% do orçamento municipal. Ao indicar o vice de JHC, ele tentava "amarrar" o prefeito no cargo para que este não concorra ao Senado em 2026”. Nesse caso, o cálculo levaria em conta que JHC dificilmente deixaria a prefeitura nas mãos de alguém mais ligado a Lira do que a ele próprio. “O plano do presidente da Câmara é concorrer ao Senado e, para isso, tenta tirar do caminho adversários no seu campo político”, diz Andreza.
“JHC, contudo, optou por fazer de Cunha seu vice. Além de colocar um nome de sua confiança, abre espaço para sua mãe se tornar senadora. Dra. Eudócia Caldas é a primeira suplente de Rodrigo Cunha. Procurado, Lira disse que sua resposta é o "silêncio sábio".”
Ecoando
Quem conhece Lira sabe que ele não deixará de se posicionar ao estilo. Quem ninguém se espante com um “enorme barulho” político nos próximos dias.
Votação será nesta quarta
Veja texto da Agência Senado
Sem acordo entre os líderes, projeto Mover vai à votação nesta quarta-feira
Da Agência Senado | 04/06/2024, 19h31
A pedido do governo, foi adiada a votação do Projeto de Lei 914/24 que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). O programa prevê incentivos financeiros para a pesquisa e a produção de veículos menos poluentes. Entre os pontos polêmicos do projeto está a taxação de compras internacionais abaixo de US$ 50, que havia sido incluída pela Câmara e que foi retirada do texto pelo relator, senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL).
As mudanças no projeto foram discutidas em reunião entre os líderes partidários e o relator, após a sessão plenária desta terça-feira (4), mas não houve acordo sobre o texto a ser votado nesta quarta-feira (5).
— Nós vamos suspender a discussão e fazer o adiamento, para amanhã, da apreciação desse item — disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante a sessão deliberativa nesta terça-feira.
O relatório ao projeto foi apresentado pelo senador Rodrigo, com várias mudanças em relação ao texto da Câmara. Entre elas estão a retirada da chamada “taxação das blusinhas” e também a exigência do uso de conteúdo local na exploração e no escoamento de petróleo e gás, ambas incluídas durante a tramitação na Câmara. Para ele, o projeto precisa seguir com o Programa Mover, que é o tema original e urgente para o país.
— Eu defendo que esse projeto vá para frente com aquilo que lhe trouxe a vida, que é o Mover. É o que vai colocar o Brasil no tema mais importante, que é o clima — disse o relator, ao lembrar o aumento na recorrência de tragédias climáticas.
O relator também criticou a prática recorrente de evitar mudanças no Senado para que projetos não tenham que voltar à Câmara. Para ele, a Casa revisora precisa ter suas prerrogativas respeitadas.