Política

Conflito interno: Medeiros denuncia autoritarismo de Paulão no PT de Alagoas

Segundo Medeiros, sua saída do PT se deu devido ao caráter autoritário e centralizador com que Paulão geria o partido

Por Ruan Teixeira 20/06/2024 17h05 - Atualizado em 20/06/2024 18h06
Conflito interno: Medeiros denuncia autoritarismo de Paulão no PT de Alagoas
Ronaldo Medeiros e Paulão - Foto: Reprodução

O deputado estadual Ronaldo Medeiros fez duras críticas à condução política do deputado federal Paulão (PT) em Alagoas. Os parlamentares têm uma longa trajetória conjunta no movimento sindical e no Partido dos Trabalhadores (PT), mas, em nota divulgada à imprensa, o deputado estadual questiona a forma como o colega ''controla'' o partido no estado. 

Segundo Medeiros, sua saída do PT se deu devido ao caráter autoritário e centralizador com que Paulão geria o partido. 

"Quando saí do PT foi pelas mesmas razões que os companheiros Judson Cabral e o finado Izac Jacson 'a forma autoritária e centralizadora como o companheiro Paulão dirige o partido em Alagoas." Ele afirma que as decisões políticas do PT em Alagoas são tomadas no gabinete de Paulão, sem passar pelas instâncias coletivas do partido. Medeiros critica a antecipação da pré-candidatura de Paulão ao Senado em 2026, argumentando que decisões dessa magnitude devem ser construídas coletivamente.  

Deputado também discorda da postura de Paulão em relação à pré-campanha de Ricardo Barbosa à Prefeitura de Maceió e ao possível rompimento com o governador Paulo Dantas.  

"Paulão prefere atropelar mais uma vez o partido ao anunciar rompimento com o governador Paulo Dantas, caso o PT tenha que abrir mão da disputa em Maceió para manter seus espaços no governo. Em momento algum, esse tema foi pauta de discussão nas instâncias deliberativas do PT, tampouco o autorizou a tratar disso em entrevistas''.

O deputado estadual recorda episódios anteriores, como o rompimento de Paulão com o governo Renan Filho em 2016, destacando que o PT posteriormente voltou a apoiar o então governador. "Até quando o PT vai girar em torno de Paulão?".

Ronaldo defendeu ainda que, apesar de sua saída temporária do PT, sempre continuou a apoiar o partido e suas lideranças. "Quando eu saí do PT, eu nunca deixei de defendê-lo e as suas lideranças." Ele menciona seu papel como líder do governo Renan Filho na Assembleia Legislativa e destaca os avanços na saúde, segurança pública, educação e infraestrutura durante esse governo. 

Por fim, Medeiros reforça a necessidade de um PT forte e atuante em Alagoas, especialmente diante das próximas eleições municipais, e critica a desconstrução partidária causada pela centralização de poder no partido. "Precisamos de um PT forte, atuante e mais influente na política em Alagoas."  

Ele apela para que as questões internas sejam resolvidas de forma a fortalecer a sustentabilidade do governo Lula tanto em Alagoas quanto no cenário nacional.

Veja a nota completa de Medeiros abaixo:

NOTA – DEPUTADO ESTADUAL RONALDO MEDEIROS 

Assisti à entrevista do companheiro Paulão ao portal Cada Minuto. 

Primeiro porque o conheço há muitos anos, pois atuamos juntos no movimento sindical, na fundação da CUT em Alagoas, na fundação do PT em Palmeira dos Índios e por sempre ter votado e feito campanha em suas disputas para deputado federal. 

Me estranha ser tratado como adversário do companheiro Paulão. Nossos adversários, são a extrema-direita, são aqueles que sugam as riquezas do povo para deixá-lo pobre, são aqueles que desejam um Brasil submisso perante potências estrangeiras, que entregam nossas riquezas ao grandes capitalistas internacionais, são aqueles que tentam nos transportar de volta à Idade Média com uma agenda pseudo moral no Congresso Nacional. 

Quando saí do PT foi pelas mesmas razões que os companheiros Judson Cabral e o finado Izac Jacson: a forma autoritária e centralizadora como o companheiro Paulão dirige o partido em Alagoas. 

Mesmo não sendo dirigente, é de seu gabinete que saem as decisões políticas adotadas pelo partido. Tudo bem que o parlamentar influencie os rumos do PT no estado, mas a tomada de decisão deve se dar nas instâncias coletivas. 

A melhor prova do que afirmo é a antecipação de sua pré-candidatura ao Senado para 2026, sem ao menos consultar sua própria tendência interna. Toda e qualquer candidatura majoritária, essencialmente, requer construção coletiva e planejada para que toda uma engrenagem política passe a funcionar em torno dela. 

O foco do companheiro deveria ser a pré-campanha de Ricardo Barbosa à Prefeitura de Maceió. Mas Paulão prefere atropelar mais uma vez o partido ao anunciar rompimento com o governador Paulo Dantas, caso o PT tenha que abrir mão da disputa em Maceió para manter seus espaços no governo. Em momento algum, esse tema foi pauta de discussão nas instâncias deliberativas do PT, tampouco o autorizou a tratar disso em entrevistas. 

O clima que Paulão aparenta construir se assemelha ao açodamento de 2016, quando o companheiro rompeu com o governo Renan Filho pelas redes sociais. É evidente que em seguida o PT reafirmou a posição, e por unanimidade, para proteger Paulão, não lhe tirando autoridade política. 

O PT voltou ao governo Renan Filho pouco tempo depois. Mas até quando o PT vai girar em torno de Paulão? 

Quando eu saí do PT, eu nunca deixei de defendê-lo e as suas lideranças. Tanto que sempre continuei associado ao partido pelas pessoas e até por colegas parlamentares, defendendo e denunciando o golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e atuando com entusiasmo na campanha de Fernando Haddad à Presidência da República em 2018. Depois, regressei ao partido que ajudei a fundar em Alagoas e luto para fortalecê-lo politicamente. 

Na Assembleia Legislativa, fui líder do governo Renan Filho, para minha surpresa, a convite dele, Renan Filho. E me orgulho disso. O governo Renan Filho mudou paradigmas na saúde em Alagoas, com a construção de vários hospitais e UPAS; na segurança pública com os CISPS; na construção de estradas e duplicações; na educação, com construção de escolas e programas como o Escola 10. 

Também exerci a função de vice-presidente da Assembleia Legislativa e que mal há nisso? Nenhum. 

Agora, mal há na constante desconstrução partidária para se manter no centro do PT de forma artificial e protocolar, se impondo pela quantidade de cadeiras nas direções e não pelo convencimento, pela construção de consensos e unidade interna. 

E sem ao menos consultar o conjunto de sua tendência, decidindo tudo de seu gabinete, cercado de duas ou três pessoas no máximo. 

O resultado disso tem sido um partido com baixa representação, ocupando somente uma prefeitura entre as 102 de Alagoas e um número pequeno de vereadores no estado. 

Em relação à retirada de meu nome para a disputa à Prefeitura de Maceió, isso ocorreu por razões de construção política, das necessidades que uma disputa majoritária requer, entre elas a de real unidade interna num partido como o Partido dos Trabalhadores. 

É chato expor problemas internos do PT. Roupa suja devemos lavar em casa. Ainda mais nesse momento, pois precisamos focar na sustentabilidade do governo Lula, aqui em Alagoas e nacionalmente, e criar crises internas e externas não deveria ser pauta do companheiro Paulão. 

Neste ano, temos as eleições municipais e precisamos eleger o maior número de prefeitos e vereadores possível. 

Precisamos de um PT forte, atuante e mais influente na política em Alagoas.