Política
“Adestrado politicamente”, presidente do BC age contra o governo Lula
Renan Calheiros faz duras críticas ao presidente do BC, Campos Neto
O senador Renan Calheiros (MDB) criticou o posicionamento do presidente do Banco Central, que tem adotado, na sua visão, um comportamento de alinhamento com o mercado e contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O pressuposto da autonomia do BC é que a autoridade monetária fosse independente, não apenas do governo, mas independente do mercado, independente dos partidos e independente de políticos. O atual BC só é independe do governo, mas subordinado ao mercado e adestrado politicamente”, disse Renan Calheiros em vídeo de sua participação em reunião no Senado, reproduzido nas redes sociais.
Em resumo, Renan Calheiros deixa claro que o posicionamento do presidente do BC é contrário ao governo Lula. Esse foi o tom do seu pronunciamento nessa terça-feira (18). O senador defende a necessidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) acelerar a redução da Selic, taxa básica de juros, atualmente em 10,50%.
BC mantém taxa
Apesar do pronunciamento de Renan Calheiros, o Copom (Conselho de Política Monetária) do Banco Central teve reuniões na terça e voltou a se reunir novamente na quarta-feira (19) para discutir possíveis mudanças na taxa de juros.
Contrariando expectativas do governo, o Copom manteve a taxa de juros. A decisão foi criticada por Lula. O presidente disse nesta quinta-feira (20/06) que a decisão anunciada ontem pelo Banco Central de manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano foi "uma pena". Ele voltou a criticar a autonomia do órgão.
A decisão do Copom foi unânime. A decisão interrompeu um ciclo de quedas da Selic desde agosto de 2023: foram sete reuniões seguidas, com redução de 13,75% para 10,5%.
"Foi uma pena que o Copom manteve", disse Lula, em entrevista à rádio Verdinha, do Ceará.
“Quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro”, disse. A reclamação de Lula já era esperada. De olho no estímulo econômico, o presidente tem sido um dos principais críticos aos juros altos e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Na entrevista, voltou a questionar a autonomia do BC. "Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?", questionou Lula. Ele tem dito que Campos Neto tem viés político.
Autonomia
Durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em que Renan Calheiros fez críticas ao presidente do BC, foram ouvidos economistas, servidores do Banco Central e ex-membros da diretoria sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 65/2023, que busca conceder autonomia financeira e orçamentária ao Banco Central, similar ao modelo de uma empresa pública.
As críticas a Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, intensificaram-se após a notícia de que ele teria manifestado interesse em ser ministro da Fazenda em uma possível gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso o governador de São Paulo concorra e vença as eleições presidenciais de 2026. Freitas foi ministro da Infraestrutura no governo Jair Bolsonaro (PL).
Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9%, totalizando R$ 10,9 trilhões, superando as expectativas do mercado. O índice de desemprego está abaixo de 8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm defendido uma redução mais rápida da taxa de juros para facilitar o acesso ao crédito, aumentar o consumo e estimular o crescimento econômico.