Política

Anúncio de plantio de árvores pela Braskem em Maceió é tentativa de limpar imagem, diz ativista

De acordo com comunicação da empresa, serão 1800 árvores plantadas em diferentes bairros da capital alagoana

Por Vinícius Rocha 19/07/2024 14h02 - Atualizado em 19/07/2024 17h05
Anúncio de plantio de árvores pela Braskem em Maceió é tentativa de limpar imagem, diz ativista
Árvores plantadas pela Braskem - Foto: Reprodução

A minerada petroquímica multinacional Braskem anunciou, nesta sexta-feira (17), o plantio de árvores em ruas, praças e avenidas de Maceió. A cidade possui cinco bairros fantasmas após os afundamento de solo causado pelas ações  da companhia. 

De acordo com a assessoria de comunicação da Braskem, serão 1800 árvores em áreas públicas nos novos trechos das avenidas Durval de Góes Monteiro e Menino Marcelo e em espaços de convívio e avenidas nos bairros Benedito Bentes, Cidade Universitária, Jaraguá e Jatiúca.

Jaiane Bruna, ativista ambiental, que participou da COP28 em Dubai, disse em entrevista ao Jornal de Alagoas, que a plantação de árvores é sempre algo muito positivo, mas no caso da mineradora Braskem, ''falando que isso é uma forma de melhorar o meio ambiente quando a mineradora continua explorando a cidade de Maceió, continua causando impactos na cidade e fora da cidade, por todo o Brasil, e fala que vai fazer isso como uma forma de compensação dos compromissos assumidos como se plantar mil e poucas árvores compensasse todo o impacto urbano que a mineradora causou e continua causando na cidade de Maceió''.

Ela também alegou que toda atitude que a mineradora Braskem toma, onde tem a temática de sustentabilidade, é uma forma de greenwashing. A ativista afirmou que mineradora ''com essa limpeza de imagem, foi para a COP28, onde iria participar de painéis no pavilhão do Brasil, discutindo sobre um futuro, a caminho de um futuro sustentável, como se a mineradora, responsável pelo maior crime ambiental em curso urbano do mundo, pudesse falar dessa temática''.

A ativista denunciou também que a mineradora não faz acordos justos a exemplo dos moradores do Flexal de baixo, ''É muito irônico", diz. "E um dos motivos, pelo menos um dos motivos atuais, é que a mineradora, junto com algumas petroquímicas, por exemplo, da Vale, querem ser uma das patrocinadoras da Conferência de Mudanças Climáticas. A COP30, que vai acontecer no ano que vem, lá em Belém do Pará. Então, é tudo bem pensado que a Braskem fala que tem a temática de sustentabilidade e a temática ambiental como se ela pudesse compensar o impacto em milhões e milhões de vidas dos moradores dos bairros de Maceió e de todo o impacto que causou e ainda causa em toda a cidade, mesmo nas pessoas que não foram e não são afetadas'', acresenta Jaiane.

Recentemente, a empresa que afundou Maceió e tirou 60 mil pessoas de suas casas lançou o edital Projetos que Transformam, "para incentivar projetos desenvolvimento local das áreas de influência das operações da Braskem". Cada projeto contemplado no edital receberá até R$ 50 mil.

Em entrevista ao Portal Olhos Jornalismo, em maio deste ano, à época do lançamento do edital, a fundadora do Observatório do Caso Braskem, Evelyn Gomes, classificou o ato como uma "óbvia ação de greenwashing". 

Ela explicou que greenwashing – um termo em inglês que pode ser traduzido como “lavagem verde”, é praticado por indústrias públicas ou privadas, organizações não governamentais e até governos. Na prática, uma tática de marketing, para promover discursos, ações e propagandas sustentáveis que, ironicamente, só se sustentam na teoria.

“É uma óbvia ação de greenwashing. Quando você pensa no nome ‘Projetos que transformam’ – que tem com o propósito de melhorar a vida das pessoas, a gente já cria um paradigma. Porque a gente está falando da empresa responsável e que se assumiu como responsável por tudo que aconteceu”, disse a ativista.