Política
Lula diz que Venezuela tem "governo com viés autoritário, mas não é ditadura"
Para Lula, governo venezuelano não é ditadura, mas tem 'viés autoritário'. Presidente brasileiro também comentou fala de Maduro, que mentiu dizendo que eleições no Brasil não são auditadas, e afirmou ele tem 'direito' de questionar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (16) discordar de nota do PT que reconheceu a eleição de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela.
Um dia depois das eleições no país, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores soltou uma nota reconhecendo Maduro como reeleito. O resultado do pleito é contestado pela oposição venezuelana e pela comunidade internacional.
"Eu não concordo com a nota [do PT], eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT. O problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela", disse Lula.
A fala de Lula nesta sexta segue o tom de outra declaração feita um dia antes, quando o presidente afirmou, pela primeira vez, não reconhecer ainda Maduro como presidente eleito.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão máximo eleitoral no país, alinhado ao regime de Nicolás Maduro, divulgou que o atual presidente foi reeleito com 52% dos votos na votação de 28 de julho. As atas eleitorais que comprovariam o resultado, no entanto, não foram divulgadas. O CNE diz que seu sistema foi hackeado.
A oposição, em contrapartida, afirma que seu candidato, Edmundo González, venceu o pleito com 67% dos votos. Os opositores se baseiam nos cerca de 80% das atas que foram digitalizadas por integrantes de suas equipes, que compareceram à maioria dos locais de votação.
"Teve uma eleição. A oposição fala 'eu ganhei as eleições', o Maduro fala 'eu ganhei as eleições'. O que eu estou pedindo para para poder reconhecer? Eu quero pelo menos saber se foi verdade os números. Cadê a ata, a aferição das urnas?", questionou Lula.
Fala de Maduro sobre eleições no Brasil
Questionado sobre a fala de Maduro de que as eleições no Brasil não são auditadas, Lula disse que o presidente venezuelano "tem o direito".
"Não tem problema, ele tem direito de colocar [a eleição brasileira em xeque], não vou impedir de colocar. No Brasil, se o cidadão entrar na internet, ele vai saber quantos votos o Lula teve em cada cidade do Rio Grande do Sul", justificou Lula.
"Eu disse pro presidente Maduro o seguinte: 'para você, é essencial que o mundo compreenda que houve uma eleição limpa e democrática'. Ele disse que ia fazer", completou.
"Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantos nesse mundo", pontuou.
Lula afirmou também ficar "torcendo" para que a Venezuela tenha um processo de reconhecimento internacional, mas frisou que isso depende "única e exclusivamente do comportamento da Venezuela". Segundo Lula, tanto Maduro quanto a oposição sabem disso.
"A oposição não gostou da ideia que eu falei, que poderia o Maduro, com seis meses de mandato, convocar novas eleições. Não gostou, o Maduro também não gostou. Agora, fica a oposição dizendo 'nós ganhamos', o Maduro dizendo 'nós ganhamos'", reforçou Lula.
O presidente salientou que não acredita que ocorra guerra civil no país. Segundo ele, há muitos países na América do Sul com disposição de ajudar a paz.