Política

MUVB exige investigação após suposto incêndio criminoso em casa de coordenador, em Maceió

Movimento cobra apuração rigorosa sobre ataque que destruiu parte do imóvel e patrimônio cultural de 20 mil livros

Por Ruan Teixeira 09/10/2024 15h03 - Atualizado em 09/10/2024 17h05
MUVB exige investigação após suposto incêndio criminoso em casa de coordenador, em Maceió
Convocação do MUVB a todas as vítimas do crime da Braskem - Foto: Assessoria

O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) publicou uma nota de repúdio nesta terça-feira, 8, exigindo uma investigação rigorosa sobre o suposto incêndio criminoso que destruiu parte da residência do coordenador-geral do movimento, Cássio Araújo, no bairro do Pinheiro, em Maceió. 

O atentado aconteceu na madrugada e, embora não houvesse ninguém no local no momento do crime, causou a perda significativa de um patrimônio pessoal e cultural de valor incalculável — uma coleção de cerca de 20 mil livros.  

Segundo o MUVB, este foi o quinto ataque à casa de Cássio desde novembro, o que levanta suspeitas de uma tentativa sistemática de intimidação. “Repudiamos veementemente as ações covardes que buscam silenciar quem se levanta em defesa das vítimas”, afirma o movimento em nota enviada ao Jornal de Alagoas. 

Cássio foi uma das milhares de pessoas forçadas a desocupar suas residências nas áreas afetadas pela mineração da Braskem, mesmo vivendo a mais de dois quilômetros de distância da mina 18 — epicentro do maior desastre ambiental em área urbana do mundo. 

A empresa, que teria garantido a segurança das áreas evacuadas, não ofereceu qualquer proteção contra as constantes invasões e furtos que atingiram o imóvel de Cássio. Coincidentemente, na semana anterior ao incêndio, a Braskem tentou demolir a casa do coordenador-geral, mas foi impedida por sua intervenção. 

Ainda de acordo com a nota, o ataque mais recente teria sido iniciado após uma pessoa, supostamente, ter entrado no imóvel pelo alçapão e utilizado álcool para iniciar as chamas. Embora ninguém tenha se ferido, os danos materiais foram extensos e atingiram a coleção pessoal de Cássio, que incluía milhares de livros. “Cássio tem sido um incansável defensor das vítimas do megadesastre e, por isso, tornou-se alvo de intimidações e violências, simplesmente por lutar por justiça”, acrescenta o documento. 

O MUVB também destaca a omissão das autoridades e da própria Braskem em garantir a segurança das vítimas, inclusive de seus líderes. Para o movimento, o incêndio não foi um fato isolado, mas parte de um ciclo contínuo de ataques contra aqueles que buscam reparação pelo desastre. "Não aceitamos que nosso coordenador, cuja única 'ofensa' foi dar voz aos milhares de atingidos pela irresponsabilidade da Braskem, seja submetido a ameaças tão descaradas", diz a nota de repúdio. 

Diante da gravidade da situação, o MUVB cobra uma investigação rigorosa e imparcial por parte das autoridades para identificar os responsáveis por esse atentado, assim como medidas urgentes para garantir a segurança de Cássio Araújo e de todas as vítimas da Braskem. "Cássio, assim como todas as vítimas, merece proteção e justiça. Não vamos recuar em nossa luta por reparação plena para todos os afetados", conclui a nota. 

Veja abaixo a nota completa: 

NOTA DE REPÚDIO DO MOVIMENTO UNIFICADO DAS VÍTIMAS DA BRASKEM (MUVB)

O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) vem a público expressar nossa mais profunda indignação e total solidariedade ao coordenador-geral do MUVB, Cássio Araújo, vítima de um incêndio criminoso ocorrido na madrugada desta terça-feira, 8, em sua residência no bairro do Pinheiro, em Maceió — uma das áreas devastadas pela mineração predatória da Braskem. Felizmente, não havia ninguém no imóvel e não houve feridos, mas o ataque destruiu parte significativa da casa, incluindo uma coleção de cerca de 20 mil livros, patrimônio pessoal e cultural de valor incalculável.

Cássio Araújo tem sido um incansável defensor das vítimas do megadesastre causado pela Braskem, cujos impactos devastaram a vida de cerca de 50 mil pessoas e afetaram diretamente outras 85 mil, residentes no entorno. Mesmo vivendo a mais de 2 km de distância da mina 18 — que colapsou em dezembro, no maior crime ambiental em área urbana do mundo — Cássio foi forçado pela Braskem a desocupar seu lar, sob o pretexto de riscos à segurança. A empresa, que forçou a retirada e manter a responsabilidade pela segurança das residências desocupadas, não ofereceu proteção contra as invasões e furtos constantes no imóvel do coordenador.

Coincidentemente, na semana passada, a Braskem tentou demolir a residência de Cássio, mas a intervenção direta do próprio coordenador impediu a invasão. Dias depois, um incêndio misterioso tomou o imóvel, após uma pessoa supostamente ter entrado pelo alçapão e utilizado álcool para iniciar as chamas. Esse foi o quinto ataque à casa desde novembro, em um ciclo repetido de intimidações e violências contra um defensor de direitos humanos que luta apenas por justiça.

O MUVB repudia veementemente as ações covardes que buscam silenciar quem se levanta em defesa das vítimas. Não aceitamos que o coordenador-geral, cuja única “ofensa” foi dar voz aos milhares de atingidos pela irresponsabilidade da Braskem, seja submetido a ameaças tão descaradas.

Exigimos uma investigação rigorosa e imparcial por parte das autoridades competentes para identificar os responsáveis por este atentado. Cássio Araújo, como todas as vítimas da Braskem, merece proteção e justiça. Em nome do MUVB, expressamos nossa solidariedade irrestrita ao nosso coordenador e reiteramos nosso compromisso de seguir firmes na luta por reparação plena para todas as vítimas.