Política
Após escândalo dos kits de robótica, diretor da Caixa Asset deixa sociedade com ex-assessor de Arthur Lira
Aliado do presidente da Câmara fundou empresa 15 dias após a deflagração da operação Hefesto
Após revelações sobre a ligação do presidente interino da Caixa Asset, Heitor Souza Cunha, com um ex-assessor de Arthur Lira, o dirigente da instituição deixou uma sociedade com Luciano Ferreira Cavalcante, ex-assessor do deputado federal e alvo de investigação da Polícia Federal no escândalo dos kits de robótica. As informações são da Agência Pública.
Cunha, que até recentemente detinha participação na LF Consultoria, uma empresa fundada por Cavalcante, solicitou seu desligamento da sociedade logo após a reportagem da Agência Pública tornar pública sua ligação com Cavalcante. Em nota oficial, a Caixa afirmou que abriria uma investigação interna sobre o caso, comprometendo-se a tomar “providências cabíveis” caso fossem identificados desvios de conduta ou conflitos de interesse.
Localizada em uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília, a LF Consultoria aparece como prestadora de serviços de intermediação empresarial e lobby governamental, inclusive com atuação junto ao Legislativo e ao Executivo. A empresa se declara especializada em “defesa de interesses em ambientes regulatórios complexos”, uma descrição alinhada ao perfil de atuação de grupos de pressão política, prática que, conforme a Lei 12.813/2013, pode configurar conflito de interesse quando envolve servidores do Poder Executivo em atividades de representação privada.
No mesmo endereço da LF Consultoria, funciona o escritório de advocacia Maurício Carvalho Advogados, liderado pelo advogado Luiz Maurício Carvalho e Silva, defensor de Lira. Carvalho negou qualquer relação entre as empresas, indicando apenas um compartilhamento de espaço.
Luciano Cavalcante, o fundador da LF Consultoria, foi alvo da Operação Hefesto, que investigou um esquema de desvio de recursos em contratos de kits de robótica financiados pelo Ministério da Educação. Em setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal arquivou o inquérito, após alegar “usurpação de competência” pelo envolvimento de autoridades com foro privilegiado. Cavalcante fundou a LF Consultoria 15 dias após a deflagração da operação,o que levantou dúvidas sobre o papel de empresas ligadas a ex-assessores de Lira em contratos com órgãos públicos.
Paralelamente, a Caixa Econômica Federal, dirigida desde o final de 2023 por Carlos Vieira, indicado por Lira após acordo político com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantém laços comerciais com a Omnia 360, empresa da filha de Cavalcante e do filho de Lira, que negocia publicidade com o banco estatal. A relação da Caixa com entidades e empresas ligadas ao entorno do presidente da Câmara reforça questionamentos sobre o uso de sua influência em contratos públicos, um tema que, para críticos, merece maior escrutínio e controle de transparência.