Política

Hugo Motta desmonta legado de Arthur Lira e muda os rumos da Câmara

Nova presidência adota condução mais colegiada e busca distensionar relações institucionais

Por Redação com agências 06/04/2025 15h03 - Atualizado em 06/04/2025 15h03
Hugo Motta desmonta legado de Arthur Lira e muda os rumos da Câmara
Hugo Motta e Arthur Lira - Foto: Marina Ramos / Agência Câmara

A presidência da Câmara dos Deputados tem passado por uma mudança de condução desde que Hugo Motta (Republicanos-PB) assumiu o comando da Casa, encerrando o período marcado pela gestão centralizadora de Arthur Lira (PP-AL). Com pouco mais de dois meses no cargo, Motta tem promovido ajustes que priorizam a colegialidade, reativam instrumentos regimentais e buscam maior previsibilidade nas pautas legislativas.

Entre os principais sinais dessa transição estão o fim dos grupos de trabalho criados fora do regimento interno — recurso frequentemente utilizado por Lira para controlar a tramitação de propostas estratégicas — e a retomada de comissões especiais e mistas. A nova direção também pactua previamente a agenda do plenário com os líderes partidários, prática que contrasta com os métodos adotados durante a gestão anterior.

A atuação de Motta no plenário tem sido mais discreta: ele presidiu apenas 10 das 23 sessões deliberativas realizadas até agora, somando pouco mais de 10 horas à frente do microfone. Aliados afirmam que o foco tem estado nos bastidores, especialmente na reaproximação com o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, áreas onde Lira acumulou tensões públicas. Um exemplo desse movimento foi o acordo firmado com o ministro Flávio Dino para ampliar a transparência das emendas parlamentares.

A ausência de uma pauta mais estruturada tem aberto espaço para o avanço de temas impulsionados pela ala bolsonarista, como a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Motta, no entanto, tem atuado para conter o avanço da matéria, evitando o apoio formal de lideranças ao pedido de urgência e forçando o PL a buscar assinaturas individualmente.

Apesar da mudança de estilo, decisões estratégicas seguem sendo tomadas em um núcleo de influência que ainda inclui Arthur Lira e os líderes Luizinho Teixeira (PP-RJ) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) — grupo informalmente chamado de “santíssima trindade”. A condução de Motta é vista por parlamentares como uma tentativa de equilibrar os interesses internos e reduzir o grau de polarização na Casa.

A principal incógnita, contudo, gira em torno do grau de autonomia do novo presidente e da sua capacidade de sustentar uma agenda própria diante das pressões políticas que seguem operando nos bastidores do Legislativo.