Política

PF faz investigação na sede do governo de Alagoas

Renan Filho foi intimado a depor no inquérito que apura uso de R$ 3 milhões em propina na campanha de 2014

Por Gazeta Web 16/11/2019 11h11
PF faz investigação na sede do governo de Alagoas
Reprodução

As provas e depoimentos coletados na investigação que apura o recebimento de propina na campanha do governo Renan Filho (MDB), em 2014, levaram o delegado da Polícia Federal, Bernardo Guidali, a solicitar ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, busca e apreensão na sede do governo de Alagoas, no Centro de Maceió, e na casa do governador, no bairro de Ponta Verde, área nobre da capital. A medida policial teria por objetivo corroborar com as provas que já estão juntadas na Ação Penal 4427. Clique aqui e veja o pedido.

Segundo o delegado da PF, a ação solicitada nos locais de trabalho dos investigados, inclusive nos gabinetes de autoridades, faz-se necessária uma vez que os envolvidos podem guardar consigo documentos e objetos relacionados às práticas criminosas. A investigação aponta que o assessor, José Aparecido Alvez Diniz, o motorista, Ricardo José Gomes da Rocha, e o marqueteiro de Renan Filho, Adriano Gehres, atuaram conjuntamente para o fluxo da propina da Lava Jato, utilizando-a na campanha ao governo. Além do governador, todos eles foram intimados a depor na ação penal.

"As buscas foram requeridas porque são consideradas necessárias para obter provas que possam esclarecer os fatos investigados, corroborando ou não o relato dos colaboradores no contexto do processo de validação das delações premiadas dos executivos do Grupo J & F", explicou o delegado a Fachin que, diante do que lhe foi apresentado, autorizou que o governador preste depoimento no inquérito policial. Ele foi intimado por uma equipe da Polícia Federal em seu apartamento, em Maceió.

Fontes ligadas à Gazetaweb informaram que o governador viajou na tarde da última segunda-feira (11) para Brasília com o objetivo de cumprir a determinação expedida pelo Supremo, prestando, assim, o depoimento à polícia no inquérito. A Gazeta buscou contato com a Superintendência da Polícia Federal para saber o teor das declarações ao delegado, mas foi informada que a instituição não se manifesta sobre as diligências. Na terça-feira (12), Renan Filho fez uma série vídeos diretamente do aeroporto em Brasília, mesmo sem ter tido agenda oficial na capital federal, reforçando a versão apresentada pelas fontes ligadas à Gazetaweb.  

O pedido de busca e apreensão 

"De fato, as práticas criminosas em apuração estão diretamente ligadas à atuação das autoridades públicas investigadas, existindo, portanto, uma "causa provável" de que, em seus gabinetes, possam ser localizados manuscritos, planilhas eletrônicas, mensagens eletrônicas, além de diversos outros documentos diretamente relacionados aos motivos pelo qual se justificam as buscas nos gabinetes das autoridades indicadas", reforçou o delegado. Renan Filho foi procurado para se manifestar sobre as ações pedidas pela Polícia Federal, mas não se manifestou. 

Propina no Hotel 

O inquérito que investiga o complexo esquema de corrupção e pagamento de propina, envolvendo Renan Filho como um dos beneficiários direto do esquema da Lava Jato, confirmou que Ricardo Rocha, assessor especial e, há anos, homem de confiança do governador, foi intermediário de parte dos R$ 3 milhões que abasteceram a campanha eleitoral no estado de Alagoas, em 2014. Ricardo, que atuou como motorista de Renan no pleito, teria recebido a propina em Maceió e, também, na cidade do Recife.

As informações foram obtidas pela Polícia Federal em depoimento de Durval Rodrigues da Costa, tomado em Brasília (DF), em 21 de maio. No depoimento, Durval apontou - em fotos apresentadas pelos investigadores - os rostos de homens de confiança de Renan com quem teria feito contato para operacionalizar tais repasses. O depoente, que foi assessor do governo de Minas e do ex-deputado federal Aracely de Paula (PR-MG), afirma ser amigo, há duas décadas, do delator Ricardo Saud, executivo do grupo J&F.

Inicialmente, Durval apontou Ricardo Santa Ritta como sendo um dos responsáveis por receber o dinheiro, mas, após novo depoimento, o depoente fez um novo reconhecimento e apontou o motorista de Renan Filho como sendo o responsável por coletar o dinheiro no hotel localizado na capital. Provas como comprovantes de passagens e pagamento de hospedagens reforçam a versão apresentada pelo declarante no inquérito. Ricardo José Gomes da Rocha recebe salário de R$ 5.676,80 como assessor especial do governador, conforme Portal da Transparência. 

Notas Fraudulentas 

Na ação penal que transcorre no STF, o delegado Bernardo Guidali detalhou e informou, ainda, ao relator da Lava Jato que o dinheiro de propina chegou até o comitê de Renan Filho "por meio de notas fraudulentas" da empresa GPS Comunicação, que é de propriedade do marqueteiro pessoal do governador, Carlos Adriano Gehres, e, também, de doações para o diretório do MDB no estado. 

Após o delegado apresentar o vasto conjunto de elementos que mostram a ligação da empresa do marqueteiro de Renan Filho com os repasses do "planilhão" - como ficou conhecida a lista de doação entregue pela J&F ao STF -, o ministro Edson Fachin determinou a busca e apreensão em dois endereços ligados ao homem responsável pelas campanhas publicitárias desde 2014. Os mandados foram cumpridos nos endereços da empresa dele e de uma residência, localizados em Florianópolis (SC).

"(...) o adimplemento da parcela de R$ 3 milhões, destinadas à campanha de José Renan Vasconcelos Calheiros Filho, foi intermediado por Roseane Nogueira de Andrade e viabilizado mediante doação oficial ao diretório do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) de Alagoas no valor de R$ 1 milhão, bem como a simulação da contratação e da prestação de serviços por parte da empresa GPS COMUNICAÇÃO LTDA, que tem por sócio Carlos Adriano Gehres, o qual foi responsável pela emissão das notas fiscais fraudulentas nº 012/2014, no valor de R$ 900.000,00, e 013/2014, no valor de R$ 800.000,00, e da empresa IBOPE, por meio da nota fiscal fraudulenta nº 14.247/2014, no valor de R$ 300 mil", disse o delegado ao STF.