Política

Bolsonaro diz a Biden que não aceita suborno para preservar Amazônia

Presidente disse que cobiça de alguns países sobre floresta é uma realidade

Por O Globo 01/10/2020 08h08
Bolsonaro diz a Biden que não aceita suborno para preservar Amazônia
Área florestal queimada na região de Porto Velho, em Rondônia Foto: CARLOS FABAL/AFP

O presidente Jair Bolsonaro classificou como "lamentáveis" as declarações de Joe Biden, candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos, no debate de terça à noite, sobre a preservação da Amazônia brasileira. Segundo Bolsonaro, a soberania nacional é "inegociável" e o Brasil não vai aceitar "subornos". Além da ajuda equivalente a R$ 113 bilhões, o ex-vice de Barack Obama sugeriu que haverá consequências econômicas para o Brasil se a devastação não for contida.

"O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu Presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. NOSSA SOBERANIA É INEGOCIÁVEL", escreveu em rede social.

Bolsonaro, que desde que assumiu o governo em 2019 tem recebido críticas externas sobre sua política ambiental, disse que o seu governo "está realizando ações sem precedentes para proteger a Amazônia" e que cooperações entre os dois países são bem-vindas, como as que estaria discutindo com Donald Trump, que tenta a reeleição.

A citação ao Brasil foi uma exceção no primeiro debate entre Trump e Biden, no qual a política externa dos EUA não esteve em discussão, salvo pelos habituais ataques de Trump à China para defender sua gestão diante da pandemia da Covid-19.

No debate, Biden tocou em um dos pontos centrais de seu plano de governo, a questão climática, e citou o Brasil ao mencionar o papel de liderança que os EUA deveriam assumir no tema.

— A Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída, arrancada. Mais gás carbônico é absorvido ali do que todo carbono emitido pelos EUA. Eu tentarei ter a certeza de fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): "Aqui estão US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se você não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas — afirmou o candidato democrata, sem entrar em detalhes sobre que consequências seriam essas.

O presidente brasileiro afirmou que a "cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade" e que "a externação por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua".

"Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração", disse.

As reações vieram também de outros integrantes do governo. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ironizou a promessa de Biden. "Só uma pergunta: a ajuda de US$ 20 bi do Biden, é por ano?", questionou Salles, em uma rede social. Ele acrescentou que a quantia só cobriria parte dos US$ 100 bilhões prometidos a países em desenvolvimento em medidas para combater as mudanças climáticas como parte dos Acordos de Paris. Em termos de comparação, o valor sugerido pelo democrata estaria muito acima do Fundo Amazônia, que fechou 2019 com R$ 2,2 bilhões.

Também no Twitter, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, afirmou ainda na terça-feira que "nenhum dinheiro do mundo" pode comprar "a liberdade e soberania brasileira". A essa publicação, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, disse que "as narrativas fantasiosas são compradas não por quem acredita nelas, mas por quem acha que pode tirar proveito delas".

Nesta quarta-feira, Filipe Martins voltou ao tema. Destacou que a Amazônia brasileira é maior, em território, que a Europa Ocidental e abriga 25 milhões de pessoas de diferentes etnias, "que aspiram vidas melhores, empregos mais dignos e têm o direito de buscar o desenvolvimento e o progresso como qualquer um de nós".

Ele afirmou que o compromisso do governo Bolsonaro com a preservação do meio ambiente está ligado ao cuidado com esses povos. Disse que essas pessoas não serão sacrificadas "no altar do ambientalismo hipócrita dos que falam muito e não fazem absolutamente nada".

Discussão com Macron

Ainda ontem, na Cúpula de Biodiversidade da ONU, em Nova York, o Brasil foi novamente alvo de críticas, desta vez por parte do presidente da França, Emmanuel Macron. Em mensagem de vídeo, Macron criticou ao desmatamento da Amazônia e atribuiu aos problemas ambientais do Brasil a recusa francesa em ratificar o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. Ele culpou o cultivo de soja pela destruição da floresta.

“A UE não assinou o acordo de comércio com o Mercosul porque ele ameaça aumentar o desmatamento”, disse Macron.

Mais tarde, também por mensagem de vídeo gravada, Bolsonaro reafirmou o “direito soberano” dos países de explorar sua biodiversidade e rechaçou o que chamou de “cobiça internacional” sobre a Amazônia. “Não podemos aceitar, portanto, que informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”.

O presidente, sem apresentar provas, também acusou ONGs de se aliarem a organizações criminosas para “comandar crimes ambientais no Brasil e no exterior”.