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Agnes Nunes lembra de racismo que sofreu e diz: Música foi meu refúgio

Por Gazeta Web 06/11/2020 18h06
Agnes Nunes lembra de racismo que sofreu e diz: Música foi meu refúgio
Agnes Nunes | Foto: Reprodução

Blush marcado, sotaque gostoso e uma das vozes mais doces e fortes do país, internet e além. Agnes Nunes, 18 anos de pura luz, começou a postar vídeos em suas redes sociais em 2017.  De lá para cá, conquistou milhares de fãs - incluindo seus ídolos Elza Soares e Caetano Veloso mesmo. Um caminho bonito demais, marcado pela música - e também por força e coragem -, que a gente narra aqui.

Como ela mesma canta, pode se achegar... "Eu fui uma criança muito musical", inicia ela. Aos 9 meses, saiu de Feira de Santana, na Bahia, onde nasceu, e foi morar no sertão da Paraíba - lá a MPB e o forró pé de serra a acompanhavam todo dia, o dia todo. "Eu ouvia Caetano, Elis Regina, Chico César, Flavio José..." Foi questão de tempo até começar, ela mesma, a soltar a voz. Primeiro sozinha, depois com a família, até se abrir para amigas de sua mãe. "Nossa, Cida, sua menina canta demais", era o comentário geral.

O pontapé para a carreira veio quando tinha 12 anos e ganhou um teclado. A história se deu assim: "Queria muito um celular de Dia das Crianças porque morava em Sousa, bem no sertão, e sofria muito racismo. No caminho até a escola as pessoas me chamavam de carvão e perguntavam o que eu escondia no cabelo. Na sala de aula, era excluída dos trabalhos. Achei que se eu tivesse um celular iam me achar mais legal". Mas Cida, a mãe, preferiu mostrar outro caminho e a presenteou com o teclado, que acabou virando melhor amigo. "Chegava da escola triste e passava o dia com ele. A música foi o meu refúgio." Sentimos muito que você tenha passado por isso e agradecemos por tamanha potência, Agnes. Mais dessa voz maravilhosa você ouve nesta entrevista.

QUANDO ENTENDEU QUE A MÚSICA ERA O SEU CAMINHO PROFISSIONAL?

No fim de 2017, quando recebi uma mensagem de uma seguidora agradecendo por tê-la ajudado a sair da depressão. Isso virou uma chave. Me fez pensar que se eu consigo mudar o dia de uma única pessoa, é isso que eu quero fazer da minha vida. Quero mudar as pessoas através da música, da arte e de quem eu sou.

AÍ VIERAM OS ELOGIOS DE ELZA, CAETANO... QUE TAL A SENSAÇÃO?

Eu me tremi todinha. Quando fiz a live com a Elza, durante a passagem de som, a minha empresária me falou: "A fotógrafa está perguntando se você pode fazer uma cara mais feliz porque em todas as fotos você está saindo com cara de choro". Mas o que eu podia fazer? Eu olhava para a Elza e me dava vontade de chorar! Então, são várias sensações: surpresa, gratidão e admiração.

VIERAM TAMBÉM OS MILHÕES DE SEGUIDORES. COMO LIDA COMA PRESSÃO DAS REDES?

Eu sumo do nada. E acho que todo mundo precisa fazer isso. A gente não pode achar que a nossa vida se resume a fotos do Instagram: pessoas magras, lindas e tomando drinques na beira da piscina. Isso não é real! Sem falar nos comentários de ódio, né? O tanto deles que recebo por causa do meu sotaque... É uma responsabilidade grande ter milhões de seguidores - ainda mais sendo tão nova. Se eu não tivesse pessoas ao meu lado me auxiliando e colocando meus pés no chão, seria difícil.

CONSIDERA-SE REFERÊNCIA?

Sim. Por exemplo, eu uso blush marcadinho e sempre ouvi que isso não era para negras, mas uso mesmo assim. Hoje eu recebo várias fotos de meninas negras usando blush marcado e falando: "Olha, Agnes, você me encorajou!". Querendo ou não sou uma referência, e tento que seja sempre positiva.

DE ONDE TIRA AS INSPIRAÇÕES PARA COMPOR?

Da vida. Eu não vivi muito, né? Sou muito jovem, mas escuto muitas histórias. Por ser uma criança sozinha, sempre convivi com adultos. Adolescente, eu ia para uma roda feminista com mainha discutir as questões da igualdade da mulher na sociedade. Misturo as histórias dessas pessoas com as minhas. E aí eu crio as músicas baseadas no que eu ouço e em pequenas coisinhas que passei.

CONTA UM POUCO DO SEU EP "ROMARIA"?

"Romaria" é uma peregrinação e essa é a que eu faço em busca de mim mesma. É um convite para as pessoas embarcarem nessa viagem comigo. Ele tem quatro músicas, "São Paulo", "Rio", "Lisboa" e "Hiroshima" - esta última eu escrevi no dia do assassinato do George Floyd. Foi um dia que eu só sabia chorar. Me tranquei no quarto e fiquei sem entender o porquê de o mundo estar desse jeito. O nome é Hiroshima porque a cidade foi bombardeada e ressurgiu das cinzas. É isso o que a gente faz todos os dias: ressurge das cinzas.

VAMOS FALAR DE SONHOS?

Já realizei o sonho de comprar um apartamento para a minha vó, lá na Paraíba. E eu ainda tenho muitos! Desejo viver bem, ver a minha família e as pessoas que amo bem e, principalmente, me ver bem. Quero ganhar um Grammy, me tornar uma artista conhecida mundialmente. Mudar muito a vida das pessoas. E ajudar a mudar o mundo - nem que seja só um pouquinho.

O QUE PODEMOS ESPERAR DE VOCÊ?

Bom, eu só espero coisas boas. Estou preparando o meu primeiro álbum que deve ser lançado no começo de janeiro. Vai ser algo totalmente diferente do que já fiz e com todas as minhas versões. Podem esperar de mim eu mesma. Espera eu mesma aí que eu tô chegando!